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DivulgaçãoA Lei Orgânica de Goiânia é clara e permite a mudança de nome de logradouros que homenageiam ditadores ou pessoas ligadas à ditadura militar no Brasil
Vitória da democracia: CCJ derruba veto e abre caminho para que Iris Rezende dê nome à avenida
16/02/2022, às 13:16 · Por Eduardo Horacio
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara de
Vereadores de Goiânia derrubou nesta quarta-feira, 16, o veto do prefeito
Rogério Cruz (Republicanos) à mudança de nome da Avenida Castelo Branco para
homenagear o ex-prefeito Iris Rezende. A proposta deve ir a plenário nesta
quinta-feira, 17. O único voto contrário na CCJ foi do vereador Azulão Júnior
(PSB).
Nesta terça, 16, o procurador-chefe da Câmara de Vereadores de
Goiânia, Kowalsky Costa Ribeiro, apontou como antijurídico o veto do prefeito,
já que o projeto de lei não exige coleta de abaixo-assinado para troca de nomes
de logradouros.
A mudança é uma vitória da democracia. Assim como outras
capitais fizeram, é um pontapé importante de Goiânia para dar fim aos
logradouros públicos que celebrem ditadores. Melhor ainda: vai homenagear
alguém que lutou contra a ditadura e é reconhecidamente o construtor de pelo
menos dois terços da Goiânia que conhecemos hoje.
A Lei Orgânica de Goiânia é clara e permite a mudança de
nome de logradouros que homenageiam ditadores ou pessoas ligadas à ditadura
militar no Brasil (de 1964 a 1985). Um dos articuladores do golpe de 64, o
general Humberto de Alencar Castello Branco foi o primeiro dos cinco militares
a presidir o País naquele período e deu nome à avenida nos anos 70. Antes, o
nome era “Avenida Maranhão”.
Unanimidade
Em 21 de dezembro a Câmara de Vereadores de Goiânia já havia aprovado, por
unanimidade, o projeto de lei que trocava o nome da Avenida Castelo Branco para
Avenida Iris Rezende Machado. De autoria do vice-presidente da Casa, Clécio
Alves (MDB), a mudança é uma homenagem ao ex-governador e ex-prefeito de
Goiânia, que morreu em 9 de novembro.
Propositor da mudança, Clécio Alves afirmou que a mudança é
um reconhecimento à luta de Iris pelo restabelecimento da democracia no Brasil.
Então prefeito de Goiânia, Iris Rezende teve seu mandato cassado pela ditadura
em 1969 e só recuperou seus direitos políticos após 10 anos.
Na sessão que derrubou o veto, nesta quarta-feira, 16, os
vereadores Clécio e Izídio Alves (também do MDB) defenderam a troca, inspirados
no trabalho e no papel político desempenhado pelo político como vereador,
senador, ministro da Agricultura e da Justiça, governador de Goiás por duas
vezes e prefeito de Goiânia por quatro oportunidades.
O vereador Marlon (Cidadania) citou mudança na Lei Orgânica
do Município, em 2014, que permite alteração dos nomes das vias e logradouros
públicos já existentes, quando se tratar de denominação que se refira às
personalidades ou autoridades vinculadas ao período da Ditadura Militar
Brasileira, ou fizer alusão ao nazismo ou fascismo.
Apoio
Preso e torturado pelos ditadores, o jornalista Pinheiro Salles escreveu dois
artigos em O Popular defendendo a mudança de nome em uma das
principais avenidas que cortam a Capital para Avenida Iris Rezende Machado.
Segundo ele, manter o nome de um ditador “significa uma agressão ao povo
goiano”. “Absolutamente nada justificaria a humilhação com um algoz do povo
goiano”, acrescentou ele. “Queremos ter a tranquilidade de transitar, estudar e
trabalhar na Avenida Iris Rezende Machado. Que os vereadores e vereadoras
assumam essa histórica iniciativa”, concluiu Pinheiro Salles, em primeiro artigo
publicado em 18 de novembro, nove dias após a morte do ex-governador e
ex-prefeito.
O professor Arquidones Bites também escreveu em O Popular
a favor da mudança. “Ele lembrou da luta de
Iris pela democracia no Brasil e disse que os “autoritarismos, do passado e do
presente, muito infelicitaram a vida da população goiana”.
Nesta quarta-feira, 16,
quem também se manifestou a favor da mudança foi o artista plástico Siron
Franco. “Eu já mandei para muita gente, para mais de 2 mil pessoas aqui (o
abaixo-assinado) pedindo a troca do nome”, afirmou em áudio que circula no
WhatsApp. O advogado Edilberto Dias, ex-procurador de Goiânia e ex-presidente
da Comurg, também se manifestou favoravelmente à mudança do nome.
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