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Goiânia, 29/05/24
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Os novos cinco sítios se somam aos 19 encontrados anteriormente em Montes Claros de Goiás, sete deles na década de 1970 e 12 em 2012, durante o trabalho para o licenciamento ambiental da BR-070, todos a céu aberto

Encontrado sítio arqueológico de 3 mil anos em Montes Claros de Goiás

31/01/2022, às 22:13 · Por Redação

O encontro de um novo sítio arqueológico em território goiano empolgou arqueólogos pela antiguidade e complexidade dos vestígios identificados. Escavações realizadas na zona rural de Montes Claros de Goiás, município da região Oeste do estado, a cerca de 270 km de Goiânia, revelaram a presença de dois grupos humanos num abrigo rochoso, sendo que a primeira ocupação data de 3.520 anos, como confirmam análises por Carbono 14 realizadas por um laboratório norte-americano.

O sítio já foi cadastrado pela superintendência de Goiás do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Batizado de Toca da Anta pelos arqueólogos que desde 2019 atuam na região atendendo exigências legais de licenciamento ambiental para uma empresa de bioenergia, o novo sítio está num abrigo rochoso que, segundo o coordenador dos trabalhos, Mozart Júnior, da Sapiens Arqueologia, não pode ser considerado uma caverna. Embora em pequeno espaço, foram identificadas duas ocupações distintas, sendo que vestígios da primeira estavam a 2,5 metros de profundidade. “No primeiro momento, passaram ali caçadores-coletores nômades.

Depois, numa fase mais recente, horticultores-ceramistas. “O mais interessante é que encontramos pinturas rupestres na parede que estão associadas ao primeiro grupo, os caçadores-coletores. Sabemos disso porque a tinta utilizada, o ocre, está associada ao material arqueológico lá de baixo. Esse é um sítio multicomponencial, como chamamos na arqueologia”, afirma Mozart Júnior. Além dele, vêm atuando na região os arqueólogos Matheus Martins, Pedro Procedino, Edward Koole e Paolo Werner. Segundo o Iphan, o novo sítio está inserido em zona preservada, numa área delimitada de 7.640 m². Por se encontrar num abrigo rochoso, o sítio está “quase original de 3.520 anos”, detalha Mozart Júnior. Vasilhas quase inteiras puderam ser remontadas. Foram identificados e coletados 3.229 artefatos de pedra e cerâmica, como ferramentas de corte e raspadores, além de restos ósseos de pequenos animais, que demonstram a dieta dos ocupantes, e porções de carvão. “O que me deixou feliz foi a conservação e a possibilidade de fazer a datação. É muito difícil encontrar carvão estruturado que possibilita uma boa datação.

E ali nós encontramos. Isso acaba somando às informações sobre a ocupação do planalto central”, explica o arqueólogo. Todos os artefatos coletados e identificados foram encaminhados para o Museu Histórico de Jataí, uma das quatro instituições de Goiás habilitadas pelo Iphan para guardar acervo arqueológico. A prospecção realizada pela Sapiens em várias fazendas de Montes Claros de Goiás revelou outros quatro sítios arqueológicos. Por estarem em áreas de agricultura, de plantio de cana, o trabalho intenso de maquinário agrícola durante décadas provocou o esfacelamento de peças arqueológicas, como cerâmicas. Embora os arqueólogos tenham feito o salvamento, como exige o Iphan para o licenciamento ambiental, muito do contexto foi perdido.

Os novos cinco sítios se somam aos 19 encontrados anteriormente em Montes Claros de Goiás, sete deles na década de 1970 e 12 em 2012, durante o trabalho para o licenciamento ambiental da BR-070, todos a céu aberto. Arqueólogo do Iphan-GO, Danilo Curado explica que os sete primeiros, registrados no órgão em 1974, foram descobertos pelo padre Pedro Ignácio Schmitz, um pioneiro da pesquisa acadêmica arqueológica no Brasil. Os demais foram encontrados pela Fundação Aroeira em pesquisas capitaneadas por Francesco Palermo Neto. Nos 12 sítios da área da BR-070, dois possuem arte rupestre, mas sem a característica multicomponencial do Toca da Anta. Danilo Curado explica que dos 19 sítios identificados anteriormente em Montes Claros de Goiás, um deles foi datado nos anos de 1970 por Carbono 14, o método chancelado internacionalmente. “A datação é de 620 anos, o que torna o recente Toca da Anta tão caro para o Iphan, para a memória e para a arqueologia. Ele está muito contextualizado, com ocupação em dois momentos, uma delas em grande profundidade. Por estar preservado, pela sua antiguidade, e tudo isso associado a três painéis de arte rupestre, o torna especial para a região Oeste do estado e para o município de Montes Claros de Goiás.


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