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Goiânia, 29/05/24
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Divulgação/Afipe

Segundo os investigadores, todos os áudios exibidos no programa noturno da TV Globo passaram por perícia técnica, que comprovou serem mesmo do padre

Fantástico revela áudios que complicam padre Robson na Justiça

21/02/2021, às 23:21 · Por Eduardo Horacio

O padre Robson de Oliveira era alvo de investigação do desvio de doações de católicos do Santuário Basílica de Trindade, cidade na Região Metropolitana de Goiânia conhecida como a “capital da fé” do estado, para a compra de imóveis de luxo do padre. Em janeiro deste ano, o processo definitivamente arquivado pelo desembargador Walter Carlos Lemes, presidente do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO), desconsiderando o pedido do Ministério Público Estadual (MP-GO) para continuar a investigação. A investigação, que se estendia à Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), também foi anulada na ocasião. Mas os áudios e mensagens podem dar novo rumo ao caso. O MP-GO quer reabrir as investigações. Padre Robson era investigado na Operação Vendilhões. O Ministério Público já apresentou recurso no Superior Tribunal de Justiça, mas ele ainda não foi analisado. 

Segundo os investigadores, todos os áudios exibidos no programa noturno da TV Globo passaram por perícia técnica, que comprovou serem mesmo do padre. Os áudios estavam em HDs, computadores e no celular do padre. O material foi apreendido em agosto de 2020, durante a operação do Ministério Público. A Afipe movimentou R$ 2 bilhões em 10 anos. Há registros de compras de fazendas, casa de praia e até de um avião. A associação tem receita de R$ 20 milhões por mês. Elas são pedidas, especialmente, para a construção de uma nova basílica de Trindade - que foi iniciada em 2012 mas, a passos de tartaruga, ainda não terminou.

Algumas gravações indicam proximidade do padre com a delegada da Polícia Civil Renata Vieira da Silva. O religioso estava sendo extorquido (segundo a matéria) por um homem chamado Ubiracimar dos Santos, o Bira, que alegava ter mensagens comprometedoras a seu respeito. Renata investigava o caso. Ele afirma a Renata que vai encontrar o homem para entender qual o conteúdo que ele possui e que vai dar um “jeito” no homem. “Eu vou tentar usar dos meios que eu conheço pra persuadi-lo a me dizer se o material que ele tem é algo interessante. Eu vou levar um policial e uma pessoa armada pra me proteger”, diz ele no áudio. “A gente vai fazer isso tudo fora do padrão legal. Nós vamos dar um chega nesse caboclo lá mas vai ser na base do faroeste caboclo”, conta ele à delegada. E ele pede ajuda dela se a conversa tiver um fim “extremo”. “Se for preciso criar uma história em cima disso, você tá junto comigo você me libera dessa situação se acontecer o extremo”, afirma.

Em nota, a delegada Renata Vieira diz que é amiga do padre Robson desde 2009 e que presidiu investigação de eventual crime de extorsão, em que o padre era vítima, e que obedeceu as normas da lei. O advogado Cláudio Pinho afirma que o suborno nunca aconteceu e que o áudio investigado é possivelmente uma montagem. A presidência do Tribunal de Justiça de Goiás afirma que não se pode presumir a ocorrência de irregularidades no julgamento de processos a partir de conversa mantida entre advogado e cliente. Anderson Fernandes, Rouane Martins e Ubiracimar dos Santos não quiseram se pronunciar sobre esta reportagem. 

Extorsão
A matéria diz também que ele estava sendo extorquido pelo ex-vereador Tayrone di Martino (PSDB). Segundo o Fantástico, Tayrone teria recebido R$ 350 mil do padre para escrever uma "biografia" dele, mas a biografia nunca saiu e nem era pra sair. Segundo áudios periciados do próprio padre, a história do dinheiro da biografia era uma possível "extorsão". Em um dos áudios a que o Fantástico teve acesso, o religioso diz: “Você acha que eu ia dar R$ 350 mil para fazer um servicinho daquele da biografia da minha vida. Aquilo foi extorsão, Talitta (di Martino, esposa de Tayrone). Extorsão pura”. De acordo com a reportagem, a extorsão teria possível relação com um suposto romance entre padre Robson e Tallita. Outro caso em que o padre teria usado dinheiro da Afipe para pagar extorsões envolve uma jornalista que teria tido acesso a material extraído de computadores do religioso, em 2017. O hacker responsável foi preso, mas teria conseguido R$ 2 milhões para não divulgar o conteúdo – tudo com dinheiro da Afipe. De posse do material, o marido da jornalista, Ubiracimar dos Santos, teria possivelmente tentado extorquir o padre.

Os investigadores também destacam uma troca de e-mails entre dois dirigentes da Afipe, Rouane Azevedo e Anderson Fernandes. Na mensagem, Rouane escreve: “Anderson, temos que proteger o padre. Se colocarem as mãos em determinados documentos, vai todo mundo preso”. Os áudios periciados e revelados pelo Fantástico foram gravados pelo próprio padre. Em um deles, ele discute com um advogado uma condenação que sofreu de pagar R$ 15 milhões, revertida em segunda instância. Ele explica que conseguiu o cancelamento da sentença por ter pagado R$ 750 mil de propina a três desembargadores.

Ao Fantástico, o secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodney Miranda, disse que vê motivos para retomar a investigação. Segundo ele, houve obstrução de Justiça, tráfico de influência, lavagem de dinheiro, e organização criminosa. Em nota enviada ao Fantástico, a defesa do religioso afirma que “desconhece o conteúdo das mensagens mencionadas pela reportagem”. O comunicado diz ainda que “são frutos de montagens e adulterações feitas por pessoas inescrupulosas que o extorquem há anos”, embora elas tenham sido periciadas. “Padre Robson está sofrendo perseguição de políticos”, prossegue a nota.

Veja o material do Fantástico na íntegra clicando aqui


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