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Ainda em resposta ao desabafo, a carta diz que a taxa de mortalidade do Hospital de Campanha de Porangatu “não se diferencia dos demais”

‘5 pacientes foram para o HCamp e 4 voltaram no caixão’, diz secretária sobre hospital em Porangatu

23/09/2020, às 11:45 · Por Pedro Lopes

A secretária de Saúde de Montividiu do Norte, Jacilene Martins de Paiva Aires, fez um desabafo em um grupo sobre o que considera alta a taxa de mortalidade de pacientes enviados ao Hospital de Campanha de Porangatu. Em um grupo de WhatsApp que reúne todos os gestores em saúde da região Norte do Estado, a gestora fez um desabafo. 

“5 pacientes meus foram para o HCamp e 4 voltaram no caixão, 1 permanece entubado em estado grave. 4 entraram lá andando, conversando. A nossa cidade está em pânico quando fala que vai encaminhar para o HCamp. Meu marido mesmo. Não tive coragem de levar para Porangatu, transferi o cartão SUS dele para Palmas e ficou internado 13 dias na UTI, graças a Deus saiu, está fraco ainda, mas sobreviveu. Ontem o que foi de ligação que recebi, o pessoal pedindo para ver o que está acontecendo com Porangatu que ninguém volta vivo”. 

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Em resposta à mensagem, a diretora do HCamp, Dra. Carolina Isabela Gonçalves Costa, divulgou uma carta aberta em que responde Jacilene Martins de Paiva Aires e diz que “assustadoramente acompanhamos e vivemos o aumento dos índices de mortalidade causada pela infecção pelo novo Coronavírus”, mas não apresentou os números desse crescimento desde a abertura da unidade. A reportagem enviou um questionamento a Prefeitura de Porangatu e publicará caso enviem. 

Ainda em resposta ao desabafo, a carta diz que a taxa de mortalidade do Hospital de Campanha de Porangatu “não se diferencia dos demais” e faz um questionamento sobre a situação da Saúde Pública de Montividiu do Norte “para que os pacientes referenciados a esta unidade cheguem sempre em estado tão avançado e grave da doença”. Leia a seguir a carta na íntegra:

Carta aberta remetida à Secretaria Municipal de Montividiu do Norte-GO e à população referência do Hospital de Campanha de Porangatu-GO

Em respeito e consideração às dúvidas e questionamentos comuns e constantes da população sobre o adoecimento por Covid-19 e seu manejo e tratamento em hospitais referências de assistência, como o Hospital de Campanha de Porangatu-GO, especificamente em resposta à Sra. Jacilene Martins de Paiva Aires, secretária municipal de saúde do município de Montividiu do Norte-GO, município pactuado à referência deste hospital.

Assustadoramente acompanhamos e vivemos o aumento dos índices de mortalidade causada pela infecção pelo Novo Coronavírus que, antes expostos apenas em telejornais e noticiários, agora tornam-se visíveis e palpáveis por ocorrerem em nossas cidades, bairros, ruas, e, lamentavelmente, em nossas famílias e círculos de amizade.

Entendemos que, à visão leiga e amedrontada da população, que não acompanha a progressão de gravidade adquirida nos pacientes desde que admitidos em internação para tratamento hospitalar em enfermaria e/ou em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), torna-se fácil ou confortável atribuir desfechos ruins, principalmente desfechos de óbito à qualquer outro componente ou personagem da história, exceto à doença.

Concomitante à luta contra um vírus agressivo e letal, vivemos diariamente, e desde o início da pandemia, o desafio de comunicar e conscientizar às pessoas sobre a gravidade da doença, sem causar pânico. Linha tênue esta. Quando se recupera um paciente, acredita-se que a doença não representou ou apresentou a gravidade antes dita. Quando se perde um paciente, acredita-se que houve falha da equipe em tratá-lo, falta de insumo ou oferta, falta de atenção ou até mesmo compaixão. Mas não se considera, popularmente, o potencial avassalador da doença em levar à decadência desde pessoas jovens a pessoas em extremo de idade, desde pessoas sem qualquer comorbidade àqueles que vivem com doenças crônicas, desde pessoas que iniciaram curso de internação com sintomas leves ou moderados até àqueles que adentram aos hospitais com sinais importantes de gravidade.

Aos profissionais em linha de frente no combate à pandemia fica a gratidão e a motivação de devolver pacientes recuperados. Nesses 03 meses de funcionamento do Hospital de Campanha de Porangatu, mais de 200 pacientes internados em Enfermaria e UTI receberam alta curados. Em contrapartida, fica aos profissionais a dor ao perder pacientes para a doença: perder histórias, sonhos, formações familiares, vidas. Dor maior sente-se ao perceber desvalor da população à luta. Dor maior sente-se ao perceber o desejo da população a muitas vezes atribuir desfechos desfavoráveis ao trabalho, à luta e ao combate, e não à doença.

Direciono neste momento a resposta desta carta à Sra. Jacilene Martins de Paiva Aires, secretária municipal de saúde do município de Montividiu do Norte-GO, que referenciou já a este hospital 05 pacientes para internação. Enfatizo que, destes pacientes, apenas 03 foram certamente regulados para pedido de internação, já apresentando sintomas de moderada gravidade, sendo que os 02 demais pacientes, sendo um deles jovem e admitido com gravidade importante por ter aguardado por dias em domicílio e trazida ao Pronto Atendimento deste hospital por meios próprios de condução, sem assistência médica, de enfermagem ou suporte mínimo de insumo em tratamento agudo. Entre estes pacientes, 04 tiveram como desfecho o óbito após dias de internação progredindo com piora importante, sem resposta à terapêutica padrão e adaptada a cada um dos casos, e 01 paciente segue internado em estado gravíssimo de apresentação clínica da doença.

No dia 11/09/2020, às 06h45, foi enviado pela Sra. Jacilene Martins de Paiva Aires ao grupo do aplicativo WhatsApp que reúne todos os gestores em saúde da região norte do Estado a seguinte mensagem (ipsis litteris, com adaptação ortográfica e de coerência para entendimento lógico): “(...) Quero fazer um desabafo com vocês gestores. 5 pacientes meus foram para o HCamp e 4 voltaram no caixão, 1 permanece intubado em estado grave. 4 entraram lá andando, conversando. A nossa cidade está em pânico quando fala que vai encaminhar para o HCamp. Meu marido mesmo não tive coragem de levar para Porangatu, transferi o cartão SUS dele para Palmas e ficou internado 13 dias na UTI, graças a Deus saiu, está fraco ainda mais sobreviveu. Ontem o que foi de ligação que recebi, o pessoal pedindo para ver o que está acontecendo com Porangatu que ninguém volta vivo.”.

Em resposta à este desabafo e questionamento, sem trazer a discussão o imoralismo inerente à transferência de registro de um paciente para outro município ao qual não residente visando benefício em atendimento, voltamos a enfatizar a gravidade da doença, o não poupar de pacientes mesmo previamente hígidos, e a curva de mortalidade padrão a qual o Hospital de Campanha de Porangatu não se diferencia dos demais. Em oportunidade ao ensejo, gostaríamos também de entender a realidade do município de Montividiu do Norte para que os pacientes referenciados a esta unidade cheguem sempre em estado tão avançado e grave da doença. Gostaríamos de compreender e, se possível contribuir no traçar de articulações municipais de tratamento de casos leves e moderados em abordagem precoce, como outros municípios da região tem feito com sucesso, certos de que a descentralização dos atendimentos reduz a sobrecarga do serviço principal, possibilita redução de danos aos acometidos, e, sem dúvidas, diminui desfechos ruins.

Certo de que este diálogo iniciei possibilidade de esclarecimentos, agradecemos a oportunidade de feedback e nos mantemos à disposição para maiores esclarecimentos. Por hora, seguimos a serviço da vida, mesmo que isto coloque em risco nossa saúde, nossa família e nossos amigos. Estamos certos de quem é o inimigo contra o qual lutamos e acreditamos que após esta explanação também haja maior clareza a todos os leitores desta carta. Sem mais para o momento, são os votos de elevada estima e grandiosa consideração. 

Porangatu, 12 de setembro de 2020

Dra. Carolina Isabela Gonçalves Costa 

Diretora do Hospital de Campanha de Porangatu-GO





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