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A solução de vender patrimônio é precária, além de deixar um pesado fardo político a ser potencializado por adversários

Os ensinamentos das vendas de Celg e Cachoeira Dourada a Caiado

25/03/2019, às 00:00 · Por Eduardo Horacio

A secretária de Economia de Goiás, Cristiane Schmidt, tem dois focos principais para recuperar as finanças de Goiás: conseguir que o Estado seja incluído em algum plano de recuperação fiscal do governo federal e vender os ativos do Estado. Se fossem investimentos em uma bolsa de valores, as apostas do governo de Ronaldo Caiado (DEM) seriam facilmente enquadradas como de "altíssimo risco".

A sanha dentro do governo para vender os ativos que pertencem ao Estado é cada vez maior. Em entrevistas na última semana, Cristiane Schmidt afirmou ter interesse em saber qual o valor dos principais ativos do Estado, incluindo prédios onde funcionam a própria pasta da Economia, antiga Secretaria da Fazenda, e até mesmo o Palácio Pedro Ludovico Teixeira. Ou seja, por ela, se o valor for interessante, o caminho é colocar uma placa de "vende-se" até na sede do governo goiano. 

O passado, no entanto, recomenda pouco. Por razões diferentes, dois governadores decidiram vender ativos importantes do Estado (leia-se, patrimônio da população goiana): Maguito Vilela (MDB), que se desfez da Usina Hidroelétrica de Cachoeira Dourada, em 1997; e Marconi Perillo (PSDB), que passou anos até conseguir vender, quase em troca de banana, a Companhia Energética do Estado (Celg), em 2015.

Muito pressionado pelo governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o então governador Maguito Vilela aceitou se desfazer do principal ativo do Estado de Goiás à época, a lucrativa Hidroelétrica de Cachoeira Dourada. A privatização era parte da renegociação da dívida do Estado com a União. Maguito refinanciou a dívida de Goiás e, com o dinheiro da venda da usina, investiu em diversas obras, alavancou seu governo e concluiu seu mandato com alta aprovação, elegendo-se, em 1998, para o Senado Federal com expressiva votação. No curto prazo o negócio pareceu um sucesso. 

Com o tempo, porém, os sucessivos prejuízos alcançados pela Celg - sem deter mais a geração de energia - foi minando o discurso do emedebista. Nas duas eleições seguintes para o governo (2002 e 2006), Maguito passou boa parte da campanha tendo de explicar (e, por ironia, aos tucanos de Goiás) a venda de Cachoeira Dourada. Até hoje, mais de 20 anos depois, o ex-governador é cobrado pela decisão. 

Marconi também foi muito cobrado pela venda da Celg, mesmo após ela ter sido dilapidada e completamente desvalorizada por sucessivas más gestões durante seus governos. E qual era a única justificativa para os problemas da Companhia, desde 2000? A venda de Cachoeira Dourada.

Ainda assim, a população goiana não enxergou na venda para a Enel qualquer vantagem. O negócio em si, assumindo dívidas e pagando pouquíssimo dinheiro, sempre pareceu nebuloso e pouco atraente. Com o tempo, ficou pior: até hoje ninguém sabe ao certo onde foi aplicado qualquer centavo com a venda da Celg. 

Com as finanças do Estado em frangalhos, Marconi se desfez de seu principal ativo na tentativa de alavancar sua ultima gestão e ajudar a promover seu sucessor, o também tucano José Eliton. O resultado foi desastroso. Os investimentos, transformados no programa "Goiás na Frente", simplesmente não foram executados e a venda da Celg se somou a outros problemas que culminaram que na derrocada dos tucanos no Estado, virando agora até uma CPI.  

Saneago
As duas privatizações, em épocas e por razões diferentes, mostram ao governador Ronaldo Caiado  que a simples venda de ativos do Estado (o maior é a Saneago) pode até trazer algum dinheiro novo para aliviar os cofres do governo a curto prazo, mas está longe de representar uma solução para qualquer gestão.

Com o passar do tempo o dinheiro novo, pouco ou muito, acaba, e o governo precisa voltar a se manter com as próprias pernas. Se os gastos com pessoal forem elevados, assim permanecerão. Se o Estado não tem recursos próprios para investimentos, voltará a ficar descoberto tão logo a fonte provisória secar.

A solução, em geral, é precária, além de deixar um pesado fardo político a ser potencializado por adversários em campanhas implacáveis. O próprio governador Ronaldo Caiado, na época senador, fez de tudo para impedir a venda da Celg e sempre se colocou contra a venda da Saneago. Inclusive, em 2018, passou a campanha atacando Marconi e aliados por "dilapidar o patrimônio dos goianos". No mínimo, soa estranho que agora o governo Caiado pretenda utilizar-se da mesma receita para devolver Goiás aos goianos. 


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