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Discurso de Caiado no governo ainda deve mudar muito pelos próximos quatro anos

Os eixos que marcam o discurso de Caiado

18/03/2019, às 00:00 · Por Eduardo Horacio

Nesses quase 80 dias de governo Ronaldo Caiado (DEM), já é possível notar cinco eixos que se destacam em seu discurso cotidiano à frente do poder. Uma herança dos quase 30 anos de parlamento sobressai: o moralismo. Quase todo discurso de Caiado tem o tom ético, moral, anti-corrupção servindo de base para o resto, sempre com críticas às gestões passadas e velados (às vezes, nem tanto assim) autoelogios. O moralismo está em discursos como "a corrupção é que estraga o asfalto e não a chuva", no ataque ao ex-governador Marconi Perillo (PSDB) ao dizer que espera que "dinheiro de bens bloqueados de Marconi 'voltem' ao Estado para ele pagar a folha" ou em ações como a venda de carros de luxo para doar ao Hospital Materno Infantil. 

Junto com o moralismo vem outra questão irmã: o voluntarismo. É típico dos portadores desta característica achar que que a vontade política tem mais valor que as mais modernas ferramentas de gestão. É um vírus que voltou com tudo em 2019, tanto que, no momento, ataca não só Caiado, mas também o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e outros governadores recém-eleitos pelo Brasil. Esperava-se de Caiado que, por não ser tão novato assim, não apostasse tanto no voluntarismo. Até por falta do que mostrar de positivo neste início de governo (dada a dívida enorme que herdou dos 20 anos de marconismo), o voluntarismo falou mais alto. A ação de vender dois carros para arrecadar dinheiro para uma unidade hospital (o que não paga nem 0,5% do custeio do mesmo) é o ápice disso, mas o voluntarismo brilha também no desligamento dos radares móveis nas rodovias (o que aumenta a quantidade de mortes e acidentes, mas agrada os infratores), no momento em que entra em crateras de rodovias ou pega na vassoura na Praça Cívica e até mesmo na infeliz ideia de ir para a Assembleia Legislativa discutir um tom acima com os deputados estaduais, às vésperas da eleição da mesa diretora. A ação fez Caiado ganhar a plateia com discursos cheios de frases de efeito, mas também fez ele perder a eleição no legislativo. 

Um terceiro eixo contradiz sua campanha eleitoral: a briga com o aparelho estatal. Na campanha, Caiado falou várias vezes em valorizar o funcionário público do Estado e ora omitia, ora recusava o discurso privatizante (disse mais de uma centena de vezes que jamais toparia privatizar a Saneago, por exemplo). Já no poder, Caiado comprou uma briga com o funcionalismo ao não pagar o salário em ordem cronológica e, na esteira disso, pede à Justiça autorização para reduzir salários (com respectiva redução de jornada) de servidores efetivos. Diferente da campanha, Caiado faz parecer que enxerga o funcionário público mais como vilão do que aliado. Nessa briga com o Estado, Caiado adota agora o discurso do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: entregando o patrimônio e criando agências reguladoras. Só não falou ainda de privatizar a Saneago, algo do desejo da secretária da Fazenda, Cristiane Schmidt. 

Outro eixo do discurso de Caiado é a valorização do que é de fora. Na montagem de seu secretariado, privilegiou vários dos postos mais importantes para secretários de fora do Estado (caso, por exemplo, de economia, segurança pública e educação). Há um lado bom nisso, afinal Caiado é um político que sempre se destacou para além do Paranaíba, por isso também enxerga mais longe. Mas, sem juízo de valor, a imagem que Caiado passa para o (orgulhoso) eleitor goiano é a de que ele não enxerga quadro técnico competente no Estado. Ou, pior do que isso, que não confia nos goianos, o que igualmente explica o número generoso de parentes em seu governo. Bobagem, por parte da oposição a Caiado, chamar os secretários de fora de "forasteiros" e outros termos xenófobos. Há goianos que são secretários em outros Estados e ninguém reclama disso. No entanto, esta é uma característica de Caiado, relatada por vários que convivem próximo a ele: tem fascínio por quem é de fora e gosta de confirmar o provérbio quando fala dos santos de casa. 

Um quinto eixo do discurso de Caiado é o alinhamento com o governo federal. Isso vem desde a montagem da estrutura do governo e do secretariado. Assim como o governo federal extinguiu o Ministério do Planejamento, o governo do Estado acabou com a Secretaria de Planejamento, fundindo-a com a Fazenda numa só pasta (criando a Secretaria da Economia). Da mesma forma, a secretária da Economia, Cristiane Schmidt, foi escolhida (por sugestão da ex-secretária Ana Carla Abrão) pelo seu alinhamento com Paulo Guedes, ministro da Economia. Nos discursos de Caiado, esse alinhamento com Bolsonaro é ainda mais explícito. Defende em reuniões do DEM que o partido entre com tudo na base do governo federal e alimenta altas expectativas de que a União vai salvar os Estados em dificuldade financeira (caso de Goiás). 

Há ainda outros pontos que aparecem no discurso de Caiado que merecem relevância, mas nenhum tão forte como os cinco acima apontados. Uma coisa é certa, se a lógica do poder se mantiver: o discurso dele ao fim dos quatro anos de mandato certamente será bem diferente de hoje. Foi assim com todos os outros governadores que passaram pelo Palácio das Esmeraldas. 


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