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Estado está no Top 10 nacional
Goiás tem alta em 'stalking' e 88% das mulheres já sofreram violência psicológica
01/12/2025, às 16:03 · Por Redação
A violência psicológica atinge 88% das mulheres no Brasil, segundo o Instituto DataSenado, e os dados oficiais mostram que o fenômeno se intensifica em Goiás. O estado está em nono lugar no ranking nacional de onde as mulheres mais sofrem esse tipo de violência, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025.
Goiás registrou um aumento de 8,1% nos casos de perseguição (stalking) entre 2023 e 2024, saltando de 3.792 para 4.098 ocorrências, e alta de 7,3% nos registros de violência psicológica (de 2.828 para 3.061 casos).
Diante desse cenário, a reportagem do Jornal Opção ouviu a delegada Ana Elisa Gomes, titular da Delegacia Estadual de Atendimento Especializado à Mulher (DEAEM) de Goiás, que classificou o combate ao crime como complexo e insidioso, especialmente por ocorrer "dentro de casa, onde a polícia não tem entrada" e envolver "sentimentos pessoais".
A Complexidade de Provar a Violência Invisível
Enquanto a violência física é "inquestionável" e facilmente comprovada por laudos periciais, a violência psicológica exige um trabalho investigativo minucioso para "comprovar o dano emocional promovido nessa mulher".
A delegada explica que a vítima precisa reviver todo o trauma para relatar uma história de humilhações, ameaças, perseguições e agressões verbais. O obstáculo jurídico é grande: "Eu preciso comprovar no inquérito policial, nas investigações, que houve esse dano emocional." Frequentemente, o Ministério Público exige laudos médicos ou psicológicos, um recurso que nem todas as vítimas conseguem acessar.
A delegada Ana Elisa Gomes acredita que o número de vítimas de violência psicológica supera o de violência física, alertando que esta é frequentemente o passo anterior à agressão física. "É uma violência silenciosa, mas que gera muitas sequelas, muitas consequências, às vezes, até mais graves do que a própria violência física."
A Burocracia da Denúncia e as Cifras Negras
O percurso de denúncia, apesar de ser um ato de coragem e "libertador", é desgastante. Ana Elisa Gomes descreve a série de burocracias que gera "cansaço, gera frustração" na vítima, incluindo a necessidade de dar detalhes e passar por "oitivas repetidas" em virtude da investigação.
Diante do desafio de provar o crime, a Polícia Civil de Goiás atua investigando todas as pessoas citadas e construindo um quebra-cabeça a partir de indícios: troca de mensagens, testemunho de familiares sobre a mudança de comportamento e relatórios psicológicos produzidos pelas profissionais da DEAEM.
Apesar dos registros oficiais apontarem a ameaça e a lesão corporal como os crimes mais registrados em volume em Goiás, a delegada faz uma ressalva sombria: as cifras negras da violência doméstica são "assustadoras".
"Pesquisas já apresentaram que nem 20% da violência que é praticada é noticiado pra nós. Nós não sabemos de fato a realidade do Brasil, das mulheres que vivem no Brasil."
Denúncia Salva Vidas e Estratégias de Combate
Para a delegada, a raiz do problema está em uma sociedade "extremamente machista" e "cada vez mais violenta", que se alimenta e estimula a agressividade. O contraponto da Polícia Civil é o investimento na especialização de suas equipes, visando "se despir de todos esses preconceitos e saber ouvir a mulher com atenção, com acolhimento".
O conselho final da delegada é um alerta baseado em estatísticas: a denúncia ainda é a melhor decisão. Ela aponta que, num cenário de 20 mil mulheres com medidas protetivas, o número de vítimas de feminicídio é muito baixo (5 ou 6 casos).
A grande maioria dos feminicídios, cerca de 90%, ocorre com mulheres que nunca sequer estiveram em uma delegacia. "Se tivessem denunciado, talvez tivessem buscado as ferramentas de proteção, talvez a gente tivesse conseguido evitar a ocorrência do feminicídio", conclui a delegada.
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