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Goiânia, 01/12/25
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Investigação aponta que grupo liderado por policial militar teria movimentado mais de R$ 7 milhões em empréstimos a juros abusivos, com cobranças marcadas por extorsão, tortura e agressões gravadas em vídeo

Operação Mão de Ferro prende sargento da PM suspeito de chefiar esquema violento de agiotagem em Luziânia

01/12/2025, às 14:52 · Por Redação


A Polícia Civil de Goiás prendeu, na sexta-feira (28/11), o sargento da Polícia Militar Hebert Francisco Póvoa, conhecido como “Sargento Póvoa”, durante a Operação Mão de Ferro, deflagrada pelo Grupo de Investigação de Homicídios (GIH) da 5ª Delegacia Regional de Polícia (DRP), em Luziânia, no Entorno do Distrito Federal. Apesar de se apresentar nos registros públicos como policial militar e ex-candidato a vereador pelo PL nas eleições de 2024, o sargento é investigado sob suspeita de atuar como líder de uma organização criminosa especializada em agiotagem, extorsão e violência contra devedores.


Segundo as apurações, o grupo operava de forma estruturada, emprestando dinheiro a juros considerados abusivos e cobrando as dívidas com ameaças, agressões, tortura e exposição das vítimas a humilhações filmadas. A investigação aponta, ainda, que a advogada Tatiane Meireles, esposa de Póvoa, participava do núcleo, oferecendo suporte jurídico para dar aparência de legalidade às cobranças e, possivelmente, blindar o esquema.


A Polícia Civil afirma que, em apenas dois anos, o esquema teria movimentado mais de R$ 7 milhões, valor que foi bloqueado pela Justiça a pedido dos investigadores, com o objetivo de garantir eventual reparação às vítimas e enfraquecer a estrutura financeira do grupo. Durante o cumprimento dos mandados, foram apreendidas armas e aproximadamente R$ 10 mil em dinheiro em espécie.


Da viatura ao palanque: narrativa em xeque


Nas eleições municipais de 2024, Póvoa disputou uma vaga na Câmara Municipal de Luziânia pelo PL, com discurso moralista e de cunho “anticorrupção”, ancorado na pauta de segurança pública e lei e ordem. Reportagens locais relatam que, durante a campanha, o sargento circulou pela cidade em trio elétrico, fazendo ataques de tom acusatório a adversários políticos, inclusive ao então prefeito e familiares. Embora não tenha sido eleito, consolidou imagem de liderança ligada ao enfrentamento do crime — narrativa que agora é confrontada pelas suspeitas investigadas pela operação.


Polêmicas e processos anteriores


A operação também trouxe à superfície histórico de registros do nome do sargento nos arquivos judiciais. Em 2016, Póvoa foi denunciado pelo Ministério Público de Goiás por tortura mediante omissão em um caso ocorrido no Ciops de Valparaíso. Já na esfera eleitoral, o sargento foi condenado por litigância de má-fé, após disseminar informações falsas contra adversários, conduta que, segundo decisão, buscou influenciar o eleitorado por meio de narrativas inverídicas.


A Polícia Militar de Goiás informou que o sargento havia sido afastado anteriormente das atividades de rua por motivos psicológicos e retornara recentemente ao serviço administrativo.


Vídeos mostram brutalidade, diz inquérito


A Polícia Civil anexou ao inquérito gravações que, conforme a investigação, mostram cenas de violência cometidas pelo grupo. Em um dos vídeos, o sargento aparece desferindo chutes contra um homem caído, enquanto Tatiane o atinge com um taco de beisebol e ordena que a vítima erga os braços. A polícia classifica os registros como evidências do modus operandi violento, empregado sobretudo quando as dívidas atrasavam.


Prisões e frentes de investigação


A Operação Mão de Ferro cumpriu mais de 10 mandados de busca e apreensão e 9 de prisão preventiva. Além do sargento, foram presos outros dois policiais militares, dois civis e a advogada, que ocupava a presidência da Comissão de Direitos Humanos da subseção da OAB em Luziânia, cargo do qual a entidade anunciou afastamento preventivo.


As investigações se concentram em, pelo menos, quatro frentes de apuração:


agiotagem com juros abusivos


extorsão e extorsão mediante sequestro


tortura


possível lavagem de dinheiro


A OAB-GO afirmou que instaurará procedimento ético-disciplinar, classificando a conduta apurada como incompatível com o exercício da advocacia. A Polícia Militar, também em nota, disse não compactuar com desvios de conduta e reiterou compromisso com ética e transparência.


Operação Mão de Ferro PM-GO Luziânia