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Trocar jardins por concreto significa mais calor, mais enchentes, menos permeabilidade e menos espaços de convivência — tudo o que Goiânia não precisa.
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Coluna do Pablo Kossa: Querem asfaltar o charme do Parque das Laranjeiras
27/11/2025, às 14:31 · Por Pablo Kossa
Ganha um prêmio de “jênio” do ano quem teve a estapafúrdia ideia de mandar asfalto em cima das áreas verdes do Parque das Laranjeiras. O tradicional bairro de Goiânia está protagonizando um problema recorrente nas cidades brasileiras: a tentativa de substituir espaços naturais por vagas de estacionamento.
Uma concepção típica do século XX e totalmente anacrônica perante o mundo de hoje.
Privilegiando interesses privados e ignorando o que pensa a população, os autores de tal projeto querem fazer tudo rapidinho, atropelando todos com as alterações, no intuito de que a opinião pública deixe passar o assunto batido. Mas a comunidade do Parque das Laranjeiras reagiu.
O projeto prevê 190 vagas de estacionamento ao longo das vias do bairro, especialmente na Alameda dos Flamboyants. A proposta inicial era ainda pior: mais de 500 vagas, sendo 330 dentro de áreas verdes. A Prefeitura barrou essa versão. Só que a que restou ainda é bem ruim.
Os moradores estão se manifestando. Em caminhadas, discursos, nas redes sociais e pautando a imprensa com sua insatisfação. Eles estão certos. Caso seja levada adiante, a iniciativa vai destruir árvores, impermeabilizar o solo e piorar o microclima do bairro.
O Parque das Laranjeiras está se consolidando como um polo gastronômico. Ótimo que bares e restaurantes dinamizem o bairro, mas é preciso ter responsabilidade. Como é comum que os frequentadores desses estabelecimentos consumam bebidas alcoólicas, estimular estacionamentos é contraproducente e perigoso. Facilitar o transporte privado em uma área onde a vida noturna é intensa fomenta a nefasta mistura entre álcool e volante.
É mais inteligente pensar em pontos de apoio para táxis e carros de aplicativo do que estacionamentos. Isso é de uma obviedade que grita.
Trocar jardins por concreto significa mais calor, mais enchentes, menos permeabilidade e menos espaços de convivência — tudo o que Goiânia não precisa.
A questão do Parque das Laranjeiras não é apenas sobre vagas de estacionamento, trata-se de algo muito maior: é sobre que tipo de cidade Goiânia quer ser. A que asfalta áreas verdes para acomodar carros ou uma cidade que entende que sombra, ar puro, permeabilidade e convivência são direitos coletivos e inegociáveis?
A comunidade do Parque das Laranjeiras já escolheu de que lado está.
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