Matérias
Divulgação
Enquanto Tarcísio hesita, Ronaldo Caiado age. O governador de Goiás já está, na prática, em campanha nacional
Coluna do Pablo Kossa: Bolsonaro vai pra cadeia e a direita brasileira vai pra onde?
25/11/2025, às 22:02 · Por Pablo Kossa
O Brasil acordou neste sábado, 22, surpreendido com a notícia de prisão de Jair Bolsonaro. Assim, prisão de ser levado pela polícia, pois preso ele já estava de forma domiciliar desde que a Justiça entendeu que ele financiava Eduardo Bolsonaro nos EUA para sabotar o bom andamento processual do seus complicados casos.
A prisão não foi algo inesperado, mas o dia e o momento sim. Bolsonaro já tem condenação e aguarda detalhes burocráticos para que seja confirmado o trânsito em jugado e parta para o início da pena conforme determinação judicial.
A justificativa para o encarceramento ter se dado hoje foi a tentativa de rompimento da tornozeleira eletrônica nessa madrugada, aliada ao fato de que Flávio Bolsonaro convocou uma vigília para a porta da casa onde o pai cumpria pena. A Polícia Federal suspeita que a aglomeração visava distrair a investigação para uma possível fuga de Jair a uma embaixada.
A defesa nega tal intento, mas vendo o rol de bolsonaristas fugitivos como Alexandre Ramagem, Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli, não dá pra ignorar que a fuga é algo do repertório dessa rapaziada da extrema-direita.
Com a antecipação do encarceramento de Bolsonaro, pra onde vai a direita brasileira que deseja representar essa orientação ideológica nas urnas em 2026?
Já pipocam nas redes vídeos e posts de nomes da direita manifestando solidariedade ao ex-presidente. Todos menos preocupados com a situação real de Jair mas de olho grande no espólio eleitoral bolsonarista.
O nome mais competitivo é Tarcísio de Freitas. Com alta aprovação em São Paulo, trânsito entre o mercado e queridinho do Centrão, Tarcísio parecia naturalmente destinado a ocupar o espaço deixado pelo ex-presidente. Mas ele não goza de confiança do eleitorado bolsonarista mais extremado, a começar pelo 03, Eduardo Bolsonaro. A prisão pode mudar essa equação. Podem tentar empurrá-lo para a candidatura. Mas não é algo simples abdicar de uma reeleição bem encaminhada. Além do fato de que Tarcísio só aceita entrar no jogo com o explícito apoio da família Bolsonaro e isso está longe de estar definido.
Enquanto Tarcísio hesita, Ronaldo Caiado age. O governador de Goiás já está, na prática, em campanha nacional. Caiado tenta se posicionar como a alternativa responsável, conservadora, ruralista, mas sem o radicalismo bolsonarista. Ganha, com a prisão, a chance de ocupar o vácuo de liderança com rapidez, mas enfrenta rejeição do bolsonarismo raiz, que o considera um desafeto. Além disso, Caiado tem limitações: é forte no Centro-Oeste, razoável no Sul, mas ainda desconhecido no Sudeste, região que define qualquer eleição. Também vai precisar se posicionar quando Eduardo e demais radicalóides extremistas lhe fustigarem. Qual será a reação de Caiado?
Romeu Zema, por sua vez, enfrenta barreiras política e até existenciais. Apesar de seu partido, o Novo, se apresentar como alternativa moderna e liberal, trata-se de uma sigla nanica e mero apêndice ideológico do bolsonarismo. Zema não consegue inspirar entusiasmo. Sua comunicação é falha, sua presença nacional é discreta e ele não empolga.
Ratinho Jr., por outro lado, sempre foi tratado nos bastidores como a aposta silenciosa da direita: seria um conservador moderado, popular no Paraná, jovem e com estilo mais conciliador. É o tipo de perfil que poderia, em tese, herdar os votos bolsonaristas sem herdar a rejeição do radicalismo. Mas falta-lhe apetite político. Ratinho Jr. Parece não demonstrar vontade real de disputar a Presidência.
A família Bolsonaro, por fim, emerge como a grande interrogação desse processo. Flávio articula melhor que qualquer outro Bolsonaro, mas não empolga; Eduardo só fala para convertidos; Carlos é inviável por questões que... bem, você sabe quais são. Michelle sofre com o machismo atávico desse grupo político. A prisão expõe o limite dessa dinastia política.
A direita brasileira entra, hoje, em sua fase de transição. Onde vai dar, não faço a mínima ideia. Mas os dados foram lançados e correm pela mesa.
Jair Bolsonaro Prisão Pablo Kossa Coluna



