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Goiânia, 24/11/25
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Política de cotas alterou o perfil da universidade e impulsionou o ingresso e a permanência de estudantes negros; trajetória da professora Mariza Fernandes simboliza impacto do programa

Ações afirmativas da UFG já garantiram formação de quase 3 mil estudantes

22/11/2025, às 09:26 · Por Redação

A Universidade Federal de Goiás (UFG) contabiliza quase 3 mil formandos que ingressaram por meio de políticas de ações afirmativas. Entre as trajetórias influenciadas pelo programa UFG Inclui está a da professora Mariza Fernandes, que hoje integra o corpo docente da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC) e atua na formação de jornalistas com foco em dados, tecnologia e justiça racial.

Mariza entrou no curso de Jornalismo em 2008 pelo sistema de cotas. Ela relata que, além da preparação para o vestibular, enfrentou manifestações contrárias à reserva de vagas para pessoas negras. Vinda da escola pública, percebeu logo no início do curso a diferença de formação em relação aos colegas. “Não tinha como concorrer. O UFG Inclui permitiu que eu disputasse com pessoas que tiveram minimamente as mesmas condições de preparo que eu”, afirmou ao jornal Opção.

A presença de docentes negros também foi determinante em seu percurso. Mariza cita a professora Luciene Dias como referência. “Ela me orientou no trabalho de conclusão de curso e me inspirou para ser a professora que sou hoje”, disse.

Após concluir mestrado e doutorado no Instituto de Estudos Socioambientais, Mariza foi empossada como professora da FIC em 2023. Para ela, o impacto das ações afirmativas na universidade é evidente. “É um aumento de mais de 500% de presença de pessoas negras desde 2014”, destacou. Em 2024, ela criou o projeto de extensão OJU — em yorubá, “olho” — voltado ao fortalecimento da função de vigilância do Jornalismo.

A adoção das cotas transformou também o ambiente docente. Luciene Dias foi a primeira professora negra do curso de Jornalismo da UFG, ingressando em 2009, um ano após a criação do UFG Inclui. Ela coordenou a área de ações afirmativas na instituição e lembra da aula inaugural ministrada pela então reitora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), Nilma Lino Gomes, primeira mulher negra a ocupar uma reitoria no país. “Ela tratou exatamente da construção de uma sociedade antirracista”, recorda.

Luciene questiona a ausência histórica de professores negros nos cursos da universidade. “A UFG, como as instituições de ensino do país, opera decisões a partir de uma percepção marcada pelo racismo. Temos provas disso”, afirmou.

Dados do sistema Analisa UFG apontam que quase 16 mil estudantes ingressaram por cotas desde a criação do programa, dos quais 2.949 já concluíram a graduação. O presidente da Comissão de Heteroidentificação (SIN/UFG), Igor Oliveira, afirma que a instituição mantém programas de permanência voltados a estudantes negros, como vagas específicas em editais de estágio e participação no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic).

Para Mariza, o avanço é evidente, mas ainda há desafios. “As políticas de inclusão não resolvem tudo, porque o racismo continua como barreira dentro das instituições. Mas são passos importantes”, concluiu.