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Se uma plataforma digital como Google, Facebook ou Instagram fatura mais de 250 milhões de dólares australianos por ano no país, ela terá de pagar uma taxa de 2,25% sobre esse faturamento
Coluna do Pablo Kossa: Que a Austrália sirva de exemplo para o Brasil
18/11/2025, às 00:56 · Por Pablo Kossa
A Austrália está mandando bem demais quando o assunto é botar ordem nessa festa da Selma que virou a relação entre as big techs e o jornalismo profissional. A conversa aqui é de brasileiro pra brasileiro, vamos lavar nossa roupa suja entre nós: a gente sabe que não tratamos com a devida relevância o papel fundamental que o jornalismo exerce pra coletividade. É revoltante que o Brasil ainda trate a atividade como um detalhe, como se a democracia pudesse sobreviver no improviso, com fake news a rodo e plataformas digitais livres de responsabilidade. Não adianta tapar o sol com a peneira. Estamos tratando coisa séria de forma relapsa.
Enquanto isso, a Austrália dá aula de seriedade política. O governo de lá acaba de apresentar um projeto que pressiona as big techs a remunerarem veículos de comunicação que produzem jornalismo.
Não é papo furado e nem conversinha mole. É política pública concreta. Construída a partir do Código de Negociação entre Plataformas Digitais e Empresas de Notícias da Austrália implementado em 2021, a coisa agora ganha corpo pra que justiça seja feita.
As plataformas ganham muuuuuuuiiita grana parasitando o jornalismo profissional. Com a ascensão da IA, ficou ainda pior. Todo conhecimento gerado pelas redações, trabalho que leva tempo, esforço e grana para ser produzido, é utilizado sem que quem investiu seja justamente remunerado.
Sejamos claros: estamos falando de picaretas passando a mão no que não é propriedade deles.
A proposta australiana é simples e justa. Se uma plataforma digital como Google, Facebook ou Instagram fatura mais de 250 milhões de dólares australianos por ano no país, ela terá de pagar uma taxa de 2,25% sobre esse faturamento. Para não desembolsar esse valor, a plataforma pode fechar acordos de remuneração com os veículos jornalísticos cujas notícias sustentam seus lucros. Para não pagar o governo, as big techs podem pagar os veículos de comunicação.
Cada dólar australiano pago ao jornalismo vale 1,50 dólar de desconto em impostos. Uma mensagem clara: quem ganha dinheiro com notícia tem responsabilidade sobre o ecossistema que produz essa notícia. Quem lucra com informação precisa ajudar a financiar o jornalismo.
O foco é no jornalismo de interesse público, especialmente o local e o regional — aquele o que fiscaliza prefeitos e governadores, dá voz à comunidade, denuncia abusos que não interessam aos veículos de alcance nacional. A imprensa local que é quem mais sofre desde o surgimento da internet.
O projeto não atinge serviços sem receita publicitária relevante e nem plataformas de baixo impacto jornalístico. A mira está nas gigantes que enriqueceram drenando audiência, dados e publicidade de veículos de comunicação que lutam pra sobreviver.
Enquanto o Brasil (com apoio da extrema-direita) segue com medinho de tocar nas big techs e mexer com interesses poderosos, o jornalismo local morre aos poucos. Municípios ficam sem jornais de pauta local, redações minguam, rádios silenciam, portais regionais fecham. E o bolo das plataformas não para de crescer.
A Austrália faz o que qualquer país sério deve ter como norte: colocar o jornalismo no centro da política pública e lembrar às big techs que liberdade econômica não é licença para destruir setores inteiros. Já passou da hora de agir.
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