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Câmara de SP aprova CPI para investigar supostas irregularidades em verbas de restauração do Jockey repassadas a empresas ligadas a Marconi Perillo
Marconi Perillo é alvo de CPI da Câmara de São Paulo por supostos desvios de verbas do Jockey
30/10/2025, às 09:37 · Por Redação
A Câmara Municipal de São Paulo aprovou nesta quarta-feira (29/10) a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar supostas irregularidades no uso de R$ 83,6 milhões em incentivos fiscais destinados à restauração do Jockey Club. A medida foi motivada por uma apuração do portal UOL, que identificou repasses de R$ 22,4 milhões da Lei Rouanet e R$ 61,2 milhões em recursos municipais com indícios de desvios e conflito de interesse envolvendo empresas ligadas à família do ex-governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB).
A proposta da CPI foi apresentada pelo vereador Gilberto Nascimento (PL), que também presidirá a comissão. O colegiado vai apurar a gestão de débitos tributários, a alienação de potencial construtivo e possíveis omissões do poder público. Os vereadores também aprovaram uma alteração no Regimento Interno para permitir até quatro CPIs simultâneas durante as sessões legislativas de 2025 e 2026. O grupo terá nove integrantes, mas ainda não há data definida para a instalação.
Suspeitas
Segundo a investigação do UOL, os valores destinados ao Jockey Club foram administrados pela produtora cultural Elysium, que se tornou procuradora do clube em 2020 e foi transformada em Organização Social de Cultura (OSC) em 2014, por decreto assinado pelo então governador Marconi Perillo. Desde então, a empresa passou a expandir sua atuação e, em 2025, obteve quatro aprovações simultâneas via Lei Rouanet, todas relacionadas ao Jockey.
Documentos obtidos pela reportagem apontam que a Elysium coordenava o restauro e contratava fornecedores que, posteriormente, receberam pagamentos milionários. Parte dessas empresas, segundo o levantamento, tem ligação familiar com Débora Perillo, prima do ex-governador.
Entre as inconsistências detectadas estão notas fiscais duplicadas e empresas sem comprovação de funcionamento. A Construtora Vidal, por exemplo, recebeu R$ 11,2 milhões, mas não foi localizada nos endereços informados em São Paulo e Goiânia — um deles corresponde a um apartamento residencial cujo condomínio foi cobrado como despesa do projeto. O imóvel pertence a Wolney Unes, diretor técnico da Elysium.
Outra empresa citada, a Ambiência Arquitetura e Restauro, aparece como beneficiária de R$ 1 milhão, mas a arquiteta responsável, Ana Ditolvo, afirmou não ter prestado serviços desse porte. Já a Construtora Biapó confirmou participação na obra, sem detalhar valores.
A Prefeitura de São Paulo também contestou as contas apresentadas pelo Jockey por constatar o uso das mesmas notas fiscais tanto na prestação de contas da Lei Rouanet quanto no mecanismo de Transferência do Direito de Construir (TDC).
Gastos pessoais
As prestações de contas analisadas pelo UOL apontam despesas consideradas incompatíveis com o uso de recursos públicos, como jantares em restaurantes de luxo, compras em farmácias e serviços domésticos em Goiânia. Entre os gastos listados estão refeições de até R$ 803, produtos de higiene e contas de IPTU e água pagas com verba do projeto.
A Elysium justificou as despesas como “custos administrativos”, alegando que a Lei Rouanet permite até 15% dos recursos para esse tipo de gasto, dentro dos limites legais. O Ministério da Cultura, contudo, esclareceu que essas despesas só são válidas se forem essenciais e proporcionais à execução do projeto e proibiu o reembolso de bebidas alcoólicas, item que apareceu entre as notas.
Defesa
Em nota ao UOL, Marconi Perillo afirmou “negar veementemente” qualquer participação na escolha da Elysium e classificou a reportagem como “desonesta”. Segundo ele, sua ligação com a empresa é “mera coincidência”, já que uma das sócias tem o mesmo sobrenome. “Não participei de nenhuma escolha e não sou responsável por acompanhar esse trabalho. Qualquer ligação com meu nome é uma leviandade absurda”, declarou.
O presidente do Jockey Club, Marcelo Motta, afirmou que as contratações feitas pelo clube “são de caráter privado” e que as prestações de contas “seguem regulares”. Em nota, a entidade disse que há “interesses externos em desvalorizar o imóvel” e negou qualquer irregularidade.
A Elysium também divulgou posicionamento em que afirma não utilizar recursos do TDC e sustenta que todos os procedimentos foram realizados dentro dos parâmetros legais da Lei Rouanet.
Obras inacabadas
Apesar dos valores repassados, parte das instalações do Jockey Club segue sem conclusão. Segundo o UOL, apenas os espaços nobres, como o salão principal e a tribuna dos sócios, receberam reformas completas, enquanto outras áreas permanecem em situação de abandono. A CPI da Câmara pretende solicitar documentos ao Ministério da Cultura, à Prefeitura de São Paulo e ao Jockey Club, além de convocar representantes da Elysium e de empresas contratadas para prestar depoimento nas próximas semanas.
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