Quilombola é a primeira médica do Hospital São Pedro, na cidade de Goiás, onde a avó limpava

Em um emocionante reencontro com o passado, a médica Lígia Fonseca Ferreira, de 27 anos, remanescente do Quilombo Alto Santana, tornou-se a primeira médica quilombola a atuar no Hospital de Caridade São Pedro D'Alcântara, na cidade de Goiás. A história de Lígia contrasta com a de sua avó, Ione, que trabalhou no mesmo hospital por 20 anos, mas nos serviços de limpeza. A informação é do jornal O Popular.

Lígia, que concluiu o curso de Medicina na Universidade Federal de Jataí (UFJ) fazendo malabarismos para se sustentar (trabalhou como garçonete e vendeu pinturas), voltou à antiga capital no final do primeiro semestre e insistiu pela vaga no hospital em que nasceu. Para ela, o reencontro com a unidade tem muitos significados e representa a superação de desafios e preconceitos.

A avó de Lígia, dona Ione, que faleceu em 2018, foi uma das principais referências do Quilombo Alto Santana. Ela chegou à cidade de Goiás fugindo de uma condição análoga à escravidão e, no hospital, sofreu um episódio de racismo ao tentar acalmar uma criança recém-nascida: o pai do bebê branco a impediu de amamentá-lo, dizendo que o filho não mamaria em uma mulher negra.

Agora, Lígia quer escrever uma história diferente na unidade, com o mesmo amor e dedicação que a avó teve pelo trabalho. A presidente da Associação de Saúde São Pedro, Marlene Velasco, comemorou a chegada de Lígia, destacando o esforço da mãe dela, Rosilda, que formou as duas filhas, uma médica e a outra, advogada. Para a secretária de Igualdade Racial, Elenízia da Mata de Jesus, as irmãs Lígia e Nicole representam a quebra da pobreza geracional.

Lígia, que encontrou na colega Gabriella Mangucci, coordenadora do Pronto Socorro e da Enfermaria, um reflexo de sua realidade de luta, sente orgulho por chegar ao hospital em uma condição diferente da avó, honrando sua história e sua ancestralidade.

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