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Símbolo da era dourada dos cinemas de rua em Goiânia, espaço hoje sobrevive com projetos locais e sem programação fixa
Cine Ouro completa 55 anos resistindo como espaço cultural de pautas abertas
05/08/2025, às 14:48 · Por Redação
Referência dos tempos em que ir ao cinema era um evento social em Goiânia, o Cine Ouro completa 55 anos em funcionamento — ainda que em nova função e longe do prestígio de sua inauguração. Uma reportagem do jornal O Popular mostrou que o antigo cinema resiste como centro cultural sob a administração da Secretaria Municipal de Cultura (Secult Goiânia), com pautas abertas a produtores locais e proponentes de projetos incentivados.
Desde 2006, o espaço abriga o Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro e recebe espetáculos teatrais, shows, palestras, exibições audiovisuais e ações educativas. Todos os eventos são gratuitos, e a ocupação depende de agendamento prévio. "A pauta do primeiro semestre contou com 1.690 pessoas, e esperamos chegar a 2.620 até o fim do segundo", afirma o gerente do centro, Kelvis Oliveira.
De gala à resistência
Na inauguração, em 1970, o Cine Ouro reuniu personalidades em trajes de gala e exibiu o clássico Aeroporto, com Burt Lancaster e Dean Martin. A sala de exibição, decorada em tons dourados, possuía hall amplo, escadarias e capacidade para 700 pessoas. "Era luxo ir ao cinema", recorda Ivana Roriz, filha do fundador Ivan Roriz. "Meu pai era apaixonado por cinema e viveu isso intensamente."
Com o passar dos anos e a queda do modelo de cinema de rua, o espaço foi reconfigurado: a grande sala foi dividida em dois ambientes, um voltado ao teatro e outro ao audiovisual. Na gestão de Kleber Adorno na Secult, o local viveu uma retomada cultural, com eventos como o FestCine, o Goiânia em Cena e mostras de cinema dedicadas a cineastas consagrados. Houve também uma fase de shows de jazz às sextas-feiras que marcaram o público.
A ideia de aquisição do imóvel pela Prefeitura chegou a ser cogitada nessa época, mas não foi adiante. Hoje, o município aluga o espaço por cerca de R$ 28 mil mensais.
Novos tempos, velhos desafios
Com o tempo, o glamour do passado cedeu espaço à funcionalidade. A Galeria Ouro, que abrigava boutiques nos anos 1970, tem hoje poucas lojas ativas. Ainda assim, o centro cultural Goiânia Ouro segue funcionando com propostas diversas — da participação escolar a concursos fotográficos, como o “Goiânia Art Déco - 100 Anos”, promovido recentemente.
Apesar da permanência como espaço ativo, o prédio enfrenta problemas estruturais. A produtora Ana Britto, por exemplo, precisou cancelar a realização do espetáculo Eu Sempre Soube, com a atriz Rosane Gofman, por falta de acessibilidade. A visita técnica identificou ausência de rampas, escadas sem sinalização e outros obstáculos. “Desde o início da gestão atual, estuda-se um projeto de restauro com acessibilidade”, reconhece Kelvis.
A programação atual não permite cobrança de ingressos nem taxas pelo uso do espaço, o que, segundo a administração, garante democratização do acesso. "O Cine Ouro está permanentemente aberto a projetos culturais gratuitos, mediante agendamento", explica Kelvis.
Um símbolo que resiste
Apesar das limitações, o Cine Ouro mantém viva parte da memória afetiva da cidade. “Muita gente passa por lá e lembra com carinho dos momentos vividos”, diz Ivana Roriz.
Enquanto o projeto de restauração não avança, o antigo cinema sobrevive como pode — sem o brilho dos tempos dourados, mas ainda de portas abertas para a cultura goianiense.
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