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As redes sociais de Gabriella foram fundamentais para desmontar a narrativa apresentada à Justiça
Juiz descobre padrão de vida de estudante no TikTok e aciona MP por suspeita de fraude em programa de bolsas da Prefeitura de Anápolis
22/07/2025, às 07:48 · Por Redação
Uma decisão da Vara da Fazenda Pública Municipal de Anápolis trouxe à tona indícios de irregularidades na concessão de bolsa integral de estudos a uma estudante de medicina da UniEVANGÉLICA. A beneficiária, Gabriella Andrade Viegas de Arruda, foi apontada pelo juiz Gabriel Lisboa como possível autora de uma tentativa de burlar os critérios do programa municipal “GraduAção”, destinado a alunos de baixa renda.
O magistrado tomou conhecimento do padrão de vida da estudante por meio de publicações nas redes sociais, especialmente no TikTok. Em vídeos disponíveis publicamente, Gabriella exibe viagens internacionais e itens de alto valor, como um relógio Apple Watch, que contrastam com a alegada condição de vulnerabilidade financeira apresentada nos autos do processo.
Contradições na versão apresentada
No pedido de manutenção da bolsa, Gabriella afirmou viver apenas com os avós maternos, com renda familiar de cerca de três salários mínimos. No entanto, a investigação feita pelo juiz revelou uma realidade bem diferente.
A mãe da estudante, Priscilla Silva de Andrade – que também assina a petição como advogada do caso – é servidora pública estadual com salário superior a R$ 8 mil e sócia de uma empresa registrada no mesmo endereço onde a estudante reside. O pai, Tiago Viegas de Arruda, também possui negócios ativos: é sócio da Duetto Imóveis e ocupou cargo comissionado no Instituto de Seguridade Social dos Servidores Municipais de Anápolis (ISSA) durante a gestão do ex-prefeito Roberto Naves (Republicanos).
Até o avô materno, apontado como um dos responsáveis pela renda limitada da família, foi identificado como empresário. Marcos Valin de Andrade é sócio-administrador da MVA Prestadora de Serviços Ltda., empresa com capital social de R$ 100 mil, cuja sede também funciona no mesmo imóvel onde mora a estudante e onde está registrada a empresa da mãe.
Redes sociais foram cruciais para investigação
As redes sociais de Gabriella foram fundamentais para desmontar a narrativa apresentada à Justiça. Em seus perfis públicos, a estudante compartilha conteúdo sobre viagens à Europa, participação em corridas e um estilo de vida considerado incompatível com a condição econômica alegada.
O juiz pontuou, ainda, que o programa “GraduAção”, mantido pela Prefeitura de Anápolis, embora instituído por lei municipal, não representa um direito adquirido pelos estudantes. Segundo a decisão, trata-se de uma política pública que pode ser modificada ou extinta pelo gestor municipal, sem obrigação constitucional de continuidade.
MPGO será acionado
Diante dos indícios de inconsistências nas informações prestadas e possíveis omissões fiscais por parte da família, o juiz determinou o envio dos autos ao Ministério Público de Goiás (MPGO). O órgão poderá, se considerar pertinente, instaurar investigação para apurar eventuais crimes contra a administração pública e infrações à legislação tributária.
Juiz TikTok MP-GO