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Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Casos no Estado podem se somar aos 245 óbitos confirmados em quatro estados; produtores cobram agilidade nas ações de fiscalização e responsabilização
Suspeita de 70 mortes de cavalos por ração contaminada é investigada em Goiás
15/07/2025, às 09:30 · Por Redação
O número de cavalos mortos após consumir ração contaminada da marca Nutratta pode ser bem maior do que os dados oficiais apontam. O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou 245 óbitos em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Alagoas. Em Goiás, criadores relatam cerca de 70 mortes com os mesmos sintomas, elevando a estimativa extraoficial de casos em todo o país. A pasta federal recebeu a primeira denúncia em 26 de maio. Investigações em andamento revelam que, nas propriedades afetadas, apenas os animais que consumiram o alimento apresentaram sintomas graves ou morreram.
Testes realizados pelos Laboratórios Federais de Defesa Agropecuária identificaram alcaloides pirrolizidínicos nas amostras — substância tóxica proibida em rações para equinos. "É um caso inédito. Nunca havíamos detectado essa substância em produtos para cavalos. Mesmo em pequenas quantidades, ela é extremamente nociva", afirmou o secretário de Defesa Agropecuária, Carlos Goulart, ao jornal O Popular. A suspeita é de contaminação por matéria-prima contendo resíduos de crotalária, planta conhecida por sua toxicidade.
O produtor rural e advogado Roberto Cysneiros perdeu um potro de seu filho de 10 anos após o consumo da ração em um rancho de doma. “Lá, já foram quatro mortes e três animais seguem em tratamento”, relatou. Ele afirmou que a escolha pela Nutratta ocorreu por dispensar o uso de volumoso mais caro. Os primeiros sintomas surgiram poucos dias após o início do consumo, com exames indicando lesões hepáticas severas. “Paralisamos o uso da ração e iniciamos protocolos de tratamento, mas em cinco dias o potro morreu. Depois, vieram os demais”, contou. Para Cysneiros, houve demora nas ações da empresa e dos órgãos fiscalizadores. “A mobilização só começou quando morreram cavalos de alto valor”, afirmou.
A ração começou a ser distribuída em março, com os primeiros relatos de morte surgindo em abril. Os sintomas incluem apatia, perda de apetite e insuficiência hepática. O presidente do Núcleo dos Criadores do Mangalarga Marchador de Goiás, Hélio Robson Cunha, confirmou que os casos no estado ocorreram principalmente entre criadores de menor porte. “A maioria dos criadores da raça não utilizava esse produto”, explicou.
Ao jornal O Popular, o presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Goiás (CRMV-GO), Rafael Vieira, informou que o Mapa continua investigando os casos, após coletas em propriedades e na fábrica. “Há indícios consistentes de relação entre o consumo da ração e os óbitos”, afirmou. Segundo ele, veterinários contratados por produtores estão reunindo provas técnicas para processos cíveis e criminais.
A Nutratta, alvo de medida cautelar que suspendeu a fabricação de ração para cavalos, retomou a produção para outras espécies após decisão liminar. O CRMV-GO também apura eventual conduta ética do responsável técnico da empresa. “Se comprovada falha, poderá haver punição que vai de advertência até a cassação do registro profissional”, disse Vieira.
Em nota à imprensa, a Nutratta declarou que tem colaborado com as autoridades e adotado uma postura cautelosa diante da gravidade da situação. “Estamos concentrando todos os esforços em apuração técnica rigorosa, reforçando nossos controles internos com apoio de especialistas”, afirmou a empresa.
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