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O agro que tanto se vangloria de seus feitos econômicos não tem o direito de matar o Araguaia
Coluna do Pablo Kossa: Visitar o Araguaia é sempre mágico e preocupante
14/07/2025, às 23:24 · Por Pablo Kossa
Goiano que não conhece o Rio Araguaia tem uma dívida gigante consigo mesmo. Um mergulho nas águas mágicas, uma caminhada pelas areias brancas e sentir na pele as marcas da inescapáveis “porvinhas” são traços indeléveis da tal goianidade.
Estou agora em Araunã. Vim para a cobertura jornalística desse período que a região recebe alto fluxo de turistas. Nunca me canso do Araguaia. Aqui, me sinto muito em casa. Não por menos: frequento suas águas desde quando estava na barriga de minha mãe.
Toda vez que vejo o rio é como se estivesse abrindo um velho álbum de fotografias. Da infância, da adolescência, da vida adulta. Cada curva do rio, cada banco de areia, cada entardecer cor de ouro traz à tona memórias de julhos passados. É a tal da fotografia drummondiana na parede. E o que dói é perceber que o Araguaia está morrendo.
Ele segue lindo, mas também sofrendo. E a preocupação que antes era uma sensação difusa se transforma em um alerta nítido: estamos matando, aos poucos, um dos maiores patrimônios naturais do Brasil. É perceptível que temporada após temporada o rio ostenta menos água. Seu leito navegável, que os barqueiros chamam de canal, fica mais estreito. Que tristeza.
O agro que tanto se vangloria de seus feitos econômicos não tem o direito de matar o Araguaia. O avanço das plantações e pastos sem controle, o desmatamento das áreas de preservação, a pesca predatória, o turismo irresponsável e a ausência de políticas públicas eficientes estão deixando marcas profundas no ecossistema do rio. A devastação do cerrado tira água do rio, as irrigações predatórias o secam, os agrotóxicos o envenenam.
Não dá mais pra seguir nessa toada. Não temos o direito de negar ao futuro o prazer de viver o Araguaia. Visitar o rio é, pra mim, um privilégio — mas também uma convocação. Que essa mágica que ele ainda nos oferece sirva como motivação para protegê-lo. Porque, se não fizermos isso agora, talvez só reste mesmo a lembrança.
Que todos tenhamos juízo.
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