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esses ataques de Trump, embora aparentemente prejudiciais, vão ser interpretados por boa parte dos eleitores-pêndulo como interferência externa indevida

Coluna do Eduardo Horacio: Como Trump pode ajudar Lula a se reeleger em 2026

09/07/2025, às 19:50 · Por Eduardo Horacio

Os ataques recentes de Donald Trump – de ordem política e de ordem econômica, por meio de tarifaços – aumentam a possibilidade de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

É um clássico da política: a interferência de figuras políticas internacionais, como o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, pode desempenhar um papel inesperado e significativo.

Há, inclusive, o fenômeno do “rally around the flag” (união em torno da bandeira), utilizando como estudo de caso a reeleição de Justin Trudeau no Canadá, que enfrentou dinâmicas semelhantes.

Os ataques estabanados de Donald Trump a Lula e ao Brasil surgem como um fator externo com potencial para influenciar a dinâmica política interna. Pra quem ainda não viu: Trump enviou uma carta a Lula anunciando uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, alegando “ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação”. Além disso, Trump tem defendido Jair Bolsonaro, afirmando que o ex-presidente é alvo de uma “caça às bruxas” e criticando o Judiciário brasileiro. A Embaixada dos EUA no Brasil chegou a endossar as declarações de Trump, o que gerou reações de repúdio por parte do governo brasileiro.

Inimigo Comum
A teoria do inimigo comum, um conceito amplamente estudado na sociologia e na psicologia social, postula que a presença de uma ameaça ou adversário externo pode unir grupos ou nações que, de outra forma, estariam divididos internamente. Ao identificar um inimigo compartilhado, as diferenças internas tendem a ser minimizadas em favor de um objetivo comum: a defesa contra essa ameaça.

Isso ajuda a descrever o aumento temporário do apoio popular a líderes políticos em tempos de crise ou ameaça externa. Foi o que reelegeu George W. Bush em 2004, mesmo três anos depois do 11 de setembro.

Este efeito é particularmente relevante em contextos de polarização, onde a figura do líder pode se tornar um símbolo de resistência contra o “inimigo” percebido.

Lula enfrentou e ainda enfrenta quedas de popularidade, até colocar em campo a guerra contra os super ricos e contra o Congresso, virando parcialmente o jogo. Trata-se ainda de um governo avaliado como “ruim ou péssimo” por 40% dos eleitores, segundo o Datafolha.
Não é preciso ser bom em política ou matemática para concluir que esses ataques de Trump, embora aparentemente prejudiciais, vão ser interpretados por boa parte dos eleitores-pêndulo (que são os que decidem a eleição, fora da bolha petista e da bolha bolsonarista) como uma tentativa de interferência externa na soberania brasileira e, consequentemente, podem ativar o efeito do inimigo comum.

Ao posicionar-se como defensor do Brasil contra uma ameaça externa (Trump e suas políticas), Lula pode galvanizar o apoio de diferentes setores da sociedade, incluindo aqueles que, em outras circunstâncias, poderiam estar mais críticos ao seu governo. A resposta do governo brasileiro, convocando reuniões de emergência e repudiando as declarações de Trump, reforça essa narrativa de defesa nacional. Se vai colar, como colou no Canadá, ainda não se sabe.
A população canadense, vendo Trump como uma ameaça externa à sua economia e soberania lá no primeiro mandato trumpista, uniu-se em torno de Trudeau, que se posicionou como o defensor dos interesses nacionais. Embora tenha perdido a maioria no parlamento, Trudeau conseguiu se reeleger, em parte, devido a essa dinâmica do inimigo comum.

Da mesma forma, em 2021, Trudeau convocou eleições antecipadas em um momento de alta popularidade, mas enfrentou resistência. No entanto, a percepção de uma ameaça comum, como a pandemia de Covid-19 e a necessidade de estabilidade em um cenário global incerto, também contribuiu para sua reeleição, embora novamente com um governo minoritário. A capacidade de Trudeau de se apresentar como o líder capaz de proteger o Canadá de ameaças externas e internas foi crucial para sua vitória, ainda que parcial.


Eduardo Horacio Coluna do Eduardo Horacio Trump Donaldo Trump Lula Eleições 2026 Tarifaço