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Com 28,9% da população composta por migrantes, Estado se consolida como destino por oferta de empregos, serviços e vínculos afetivos
Três em cada dez moradores de Goiás nasceram em outros estados
05/07/2025, às 08:43 · Por Redação
Goiás abriga hoje mais de dois milhões de brasileiros que nasceram em outras unidades da federação. É o segundo estado que mais recebe migrantes internos no país, atrás apenas de São Paulo. Os dados são do Censo Demográfico de 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Proporcionalmente, 28,9% da população goiana não nasceu no Estado, o que o coloca na quarta posição entre os mais atrativos do país nesse quesito.
A migração para Goiás tem múltiplos fatores. Conforme reportagem do jornal O Popular, Emprego, educação, segurança e acesso a serviços públicos estão entre os principais motivos. Além disso, a presença de familiares e amigos facilita o deslocamento e reforça os laços com o novo território.
O perfil dos migrantes revela mudanças ao longo do tempo. Em 1991, a maioria vinha de Minas Gerais. Hoje, os principais fluxos vêm do Distrito Federal, que concentra 16,7% dos migrantes em Goiás, seguido por Minas Gerais (14,1%) e Maranhão. Também figuram na lista Bahia, Tocantins, Pará, Piauí, São Paulo, Ceará e Pernambuco.
A atração por Goiás está ligada à expansão econômica e à estrutura urbana. "Goiás se consolidou nas últimas décadas como um polo regional. A partir da década de 1990, passou a atrair migrantes com mais intensidade", afirma o geógrafo Eguimar Chaveiro, professor da UFG. Ele destaca o papel do agronegócio no interior e dos serviços nas regiões metropolitanas.
A trajetória da maranhense Irenilde Alves, de 39 anos, ajuda a ilustrar esse cenário. Ela chegou a Goiânia em 2023 após iniciar um novo relacionamento. “Tinha o sonho, mas coloquei na gaveta”, disse. Ao se estabelecer na região noroeste da capital, começou a trabalhar com comida e criou um projeto social de doação de marmitas. “Com as oportunidades que estou encontrando, para mim, está sendo maravilhoso”.
Outro migrante do Maranhão, Felipe Lobo, 23, chegou no mesmo ano. Natural de Porto Franco, buscava melhores condições profissionais. Desempregado e com um filho pequeno, decidiu se mudar após visitar a cidade com o pai, caminhoneiro. “Aqui é muito mais tranquilo e com mais oportunidades.”
O professor Rafael Bittencourt, de Belo Horizonte, vive em Goiânia desde que foi aprovado para uma vaga efetiva na UFG. “Vim porque estava feliz e satisfeito”, conta. A mesma motivação acadêmica trouxe Augusto Mendes, da Angola, para uma pós-graduação na UFG. Hoje, ele preside a Associação de Migrantes, Refugiados e Apátridas de Goiás (Amira-GO).
A chamada “rede afetiva” também é fator importante. O professor Eguimar explica que migrantes seguem familiares ou conhecidos que já vivem no novo destino. “Essas redes facilitam a mudança, reduzem os riscos e criam núcleos de convivência nos bairros e cidades.”
A assistente de vendas Alba Valéria Martins, de 59 anos, vivenciou isso em duas ocasiões. Natural da Bahia, conheceu Goiânia ainda criança. Depois de morar fora por anos, retornou à capital em 2021 para recomeçar, e hoje avalia trazer os filhos para viverem com ela. “Goiânia conquistou meu coração.”
Para Cecília Heringer, 23, a mudança foi motivada pela identificação com a cidade. Após breve passagem para um curso, decidiu se mudar de vez de Parauapebas (PA) para cursar Design de Interiores. “A segurança me chamou atenção. É uma capital, mas parece interior.”
Além dos brasileiros, Goiás também atrai imigrantes de outros países. Segundo o IBGE, mais de 10 mil estrangeiros vivem no Estado. A maioria é da Venezuela, com 3,8 mil pessoas. Também há migrantes dos Estados Unidos, Portugal, Reino Unido, Haiti, Colômbia, Bolívia, entre outros.
Lauris Barrera, venezuelana de 34 anos, chegou a Goiânia em 2018. O marido veio primeiro, trabalhou com malabarismo e conseguiu trazer a família. Lauris passou a vender doces e hoje comanda uma chocolateria no Setor Sul. “Cheguei na segunda e na quinta já estava na rua vendendo.”
Segundo Augusto Mendes, o acesso a saúde pública e a estabilidade são fatores que pesam na decisão dos imigrantes. No entanto, ele alerta para a presença de xenofobia. “Mesmo falando português, ainda existe discriminação linguística.”
Motivações econômicas
Para o superintendente do IBGE em Goiás, Edson Vieira, a migração para o Estado se intensificou nos últimos anos em razão do crescimento econômico. “Goiás tradicionalmente recebe muitos migrantes, mas houve aceleração recente. As pessoas vêm atrás de oportunidades.”
A região do Entorno do Distrito Federal é exemplo disso. Seis das dez cidades goianas com maior número de migrantes estão nessa área. Moradores se instalam em Goiás, onde o custo de vida é mais baixo, e trabalham em Brasília. Essa dinâmica reforça a expansão urbana e evidencia o papel do Estado no cenário migratório nacional.
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