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Reprodução - José Cícero/Agência Pública
Imagem aérea mostra as cavas abertas pela extração de amianto; ao fundo, a cidade de Minaçu
Entre o amianto e as terras raras, Minaçu vive o dilema da mineração e do desenvolvimento
02/07/2025, às 11:44 · Por Redação
Uma reportagem publicada pela Agência Pública mostra como Minaçu, no norte de Goiás, tenta transitar de um passado marcado pela exploração de amianto para um futuro promissor — e incerto — com a produção de terras raras, minérios estratégicos para a transição energética e disputados por potências como China e Estados Unidos. A cidade, com pouco mais de 27 mil habitantes, tornou-se o primeiro polo fora da Ásia a produzir, em escala comercial, um concentrado dos elementos usados em superímãs, essenciais para turbinas eólicas, motores de carros elétricos e tecnologias militares.
A atividade é liderada pela empresa Serra Verde, controlada por um fundo americano, e ocorre em uma área próxima à mesma serra que, por seis décadas, abrigou a extração de amianto pela Sama — empresa que estruturou economicamente e fisicamente o município. A reportagem mostra que a esperança em torno das terras raras é vista como um “recomeço” para a cidade, cujo modelo de desenvolvimento esteve atrelado à mineração e ao domínio de uma única empresa.
A operação com amianto, embora reduzida após o banimento da substância no Brasil em 2017, ainda persiste graças a uma lei estadual que permite a exportação do minério. Essa legislação é contestada no Supremo Tribunal Federal (STF), que discute a sua constitucionalidade. Enquanto isso, a extração de terras raras avança, ainda que com atrasos. Em 2023, foram exportadas 419 toneladas para a China — volume distante da meta da Serra Verde de produzir ao menos 5 mil toneladas anuais.
Apesar do potencial econômico, os desafios permanecem. A reportagem aponta que, entre outubro de 2023 e março deste ano, mais pessoas foram demitidas do que contratadas pela Serra Verde, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Além disso, há relatos de moradores sobre impactos ambientais em córregos próximos à mina, como mudança na coloração da água e abortos em animais. A empresa afirma adotar práticas sustentáveis, com uso de sal e reciclagem de água no processo, e nega a presença de resíduos tóxicos.
A dependência da mineração e a ausência de uma política de diversificação econômica também são criticadas por pesquisadores. Estudos mostram que, mesmo no auge da produção de amianto, a pobreza em Minaçu não foi reduzida de forma significativa. Hoje, cerca de 30% das famílias da cidade estão inscritas no Cadastro Único para programas sociais.
O prefeito Carlos Alberto Lereia (PSDB) acredita que a produção de terras raras trará uma “riqueza enorme” para o município, mas admite não ter plano estruturado para absorver a mão de obra caso a Sama encerre suas atividades. Uma lei estadual já prevê o fim da extração de amianto em cinco anos.
Para pesquisadores ouvidos pela Agência Pública, o risco é repetir o mesmo modelo de enclave econômico que marcou a trajetória da cidade: extrair o minério, exportar a matéria-prima e depender de royalties — sem garantir empregos estáveis ou industrialização local. Segundo eles, o Brasil ainda precisa desenvolver uma cadeia completa de terras raras, com refinamento, produção de componentes e incentivo à demanda interna.
Amianto Mineração STF Minaçu Goiás,