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Foto: Francesc Melcion/Divulgação
Salgado ajudou a entender o mundo como um lugar lindo e desigual, encantador e injusto
Coluna do Pablo Kossa: Sebastião Salgado fez gerações entenderem a arte com compromisso
23/05/2025, às 14:25 · Por Pablo Kossa
Nunca fui muito ligado em fotografia. Até hoje não sou alguém empolgado com esses registros. Em tempos de Instagram bombado como referencial de gabarito profissional, me é um esforço gigante manter frequência de postagens para permanecer relevante ao algoritmo. Não é fácil. Além de uma aversão nata, ter contato com a obra de Sebastião Salgado na adolescência me fez distanciar ainda mais dos cliques nas máquinas fotográficas. Compreendi a foto como algo que sublima e minha incapacidade de sequer roçar algo assim.
Conheci Salgado pela revista Caros Amigos. Um ensaio dele
foi publicado e, como leitor assíduo, entendi o tamanho do cara. Quando entrei
na faculdade de Jornalismo da UFG, vi que vários colegas endeusavam o
fotógrafo. Justíssimo.
O preto e branco, a sensibilidade, as feições registradas,
os detalhes... tudo acachapante, tudo real, tudo bonito, tudo cru. Belo e duro
de forma simultânea. Sentimentos conflitantes que afligiam o coração enquanto
encantavam o olhar. Dúbio, é claro, como só a arte maiúscula consegue. É nesse
panteão que Salgado se encontra.
Ele me ajudou a entender o mundo como um lugar lindo e
desigual, encantador e injusto. Com suas lentes sensíveis e poderosas, a beleza
e a dor da condição humana atingiram outro patamar.
Morreu aos 81 anos em Paris, onde residia há tempos. Ele
enfrentava problemas de saúde crônicos, consequência da malária que contraiu
nos anos 1990 — um dos muitos riscos que assumiu ao levar seu trabalho tão a
sério.
Um gigante. Que descanse em paz.
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