Matérias
Reprodução
Eunice Pirkodi Tapuia leciona epistemologia indígena no curso de Licenciatura em Educação Intercultural
Primeira professora indígena concursada da UFG compartilha saberes ancestrais
01/05/2025, às 11:53 · Por Redação
A professora Eunice Pirkodi Tapuia, primeira indígena concursada da história da Universidade Federal de Goiás (UFG), compartilhou vivências e saberes em visita ao Centro Espírita São Miguel Arcanjo, nesta quarta-feira, 30. Desde maio de 2024, Eunice leciona epistemologia indígena no curso de Licenciatura em Educação Intercultural.
Durante a roda de conversa, Eunice compartilhou reflexões profundas sobre o modo de viver e de pensar dos povos indígenas. “O conhecimento vem atrelado à responsabilidade”, afirmou. “Não é porque existe um conhecimento que eu vou querer ter. Porque, ao ter, eu preciso saber usá-lo com verdade e compromisso”.
Vestida com elementos tradicionais, que ela faz questão de afirmar não serem "enfeites", mas sim símbolos de conexão com seus ancestrais, Eunice ressaltou que nunca fala sozinha. Ela carrega consigo o povo Tapuia e a sabedoria de gerações. “Antes de conhecer o caminho, é preciso saber quem está com você. Porque, se você cair, vai precisar de ajuda. A gente não caminha sozinho.”
A professora destacou as diferenças entre o modo de vida indígena e a lógica racional dominante no mundo urbano. Segundo ela, enquanto a sociedade atual é regida pela razão, pelo planejamento e pelo acúmulo, o pensamento indígena é movido pelo sentimento, e pelo respeito à vida em todas as suas formas. “Para nós, tudo é vivo. A pedra é viva. A água é viva. A gente acredita que cada pessoa nasce com uma missão. E além dessa missão, carrega também o conhecimento de sua família”.
Crítica à estrutura individualista e hierarquizada da sociedade contemporânea, Eunice comparou a lógica dos espaços urbanos — “tudo é quadrado, encaixado” — com a visão circular dos povos indígenas, em que não há cima nem abaixo, mas sim um todo conectado. “Na aldeia, a gente reparte. E isso só funciona porque todos têm a consciência de que não devem ser peso para o outro.”
Em meio às trocas, Eunice também abordou os desafios de viver entre dois mundos, o da aldeia e o da cidade. “Eu precisei aprender a medir tudo com duas réguas. A régua da aldeia e a régua daqui. Porque, senão, a gente acaba sendo vista como ingênua. E não somos, observamos e aprendemos”, compartilhou a professora.
UFG Professora Indígena Eunice Pirkodi Tapuia Goiânia Goiás,