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Goiânia, 01/05/25
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Mário Agra

Marussa Boldrin revela rotina de abusos físicos e psicológicos e critica decisão judicial que inicialmente negou medidas protetivas; caso mobiliza apoio de autoridades e sociedade

Saiba qual era a rotina de agressões sofridas por deputada federal goiana

29/04/2025, às 09:43 · Por Redação

A deputada federal goiana Marussa Boldrin (MDB) rompeu o silêncio nesta segunda-feira, 28, ao tornar público um ciclo de violência doméstica que, segundo ela, marcou seu relacionamento com o ex-marido, o advogado Sinomar Júnior. Em relato divulgado nas redes sociais, Marussa descreve uma rotina de agressões físicas, ameaças, traições e humilhações, que culminou em um pedido de socorro às autoridades.

De acordo com a deputada, o episódio mais grave ocorreu em 18 de março, em Brasília, quando a Polícia Militar foi acionada por um vizinho após ouvir gritos vindos do apartamento do casal. Marussa e Sinomar foram levados à Delegacia Especial de Atendimento à Mulher I (Deam I), mas, temendo a repercussão por conta de seu cargo público e abalada emocionalmente, ela preferiu não detalhar a agressão na ocasião. “Eu achava que iria passar, melhorar e ficar tudo bem”, contou ao jornal O Popular.

No entanto, o medo persistiu. No dia seguinte, a parlamentar retornou à delegacia para relatar que, após saírem do local, o ex-companheiro tentou agredi-la novamente e a ameaçou. “Dizia que se eu achava que minha vida estava ruim, ia piorar quando ficasse sem ele”, revelou Marussa. Ela relatou ainda que foi forçada a ir para Rio Verde, cidade natal da deputada, em carros separados. Lá, as ameaças teriam continuado, inclusive com tentativas de controlar seus deslocamentos. Diante da escalada de violência, ela voltou a Brasília e pediu medidas protetivas.

Marussa e Sinomar viveram juntos por quase nove anos e têm dois filhos, uma menina de 7 anos e um menino de 4. Um dos filhos teria presenciado uma das agressões. A primeira violência física, segundo a deputada, aconteceu em 2023, mas foi mantida em segredo por vergonha. “Depois do nascimento de nossa primeira filha, os abusos psicológicos aumentaram. Ele se distanciou de mim, teve mais de um caso extraconjugal”, relatou. Ela afirmou que a segunda gravidez foi uma tentativa de salvar o casamento. “Ainda sem perceber o quão tóxico era, dei mais um passo em direção a ele”, disse.

Apesar do histórico, a Justiça inicialmente negou o pedido de medidas protetivas. Em decisão de 20 de março, o juiz Marcelo Andres Tocci considerou que Marussa havia apresentado “versões divergentes” sobre os fatos e afirmou não haver “situação de risco adequadamente delineada”. Contudo, o Ministério Público recorreu, e em 25 de março, o desembargador Esdras Neves concedeu as medidas. Determinou o afastamento de Sinomar do lar, proibiu qualquer forma de contato e estabeleceu um raio de 300 metros de distância. O descumprimento pode levar à prisão do advogado.

A defesa de Sinomar, por sua vez, afirmou que “todas as questões relativas ao processo de divórcio estão sendo devidamente tratadas na esfera judicial, sob segredo de justiça” e alegou que “foi evidenciada a violação dos deveres conjugais de respeito e fidelidade por parte de sua ex-esposa”. Disse ainda que “as redes sociais não são o meio adequado para tratar de questões familiares tão sensíveis”.

A repercussão do caso tem mobilizado apoio institucional e da sociedade civil. O MDB divulgou nota de solidariedade à deputada, destacando sua coragem ao tornar público um ciclo de abuso. O Centro de Valorização da Mulher (Cevam), de Goiás, também expressou apoio, agradecendo à parlamentar por “descerrar os crimes perpetrados e se colocar em praça pública”.

A publicação de Marussa nas redes sociais foi amplamente compartilhada, com centenas de mensagens de apoio — muitas delas de mulheres que relataram ter vivido situações semelhantes. “Sou só uma dona de casa. Obrigada por compartilhar, isso me fortalece para lutar e sair do cativeiro”, comentou uma seguidora. “Somos vítimas duas vezes: quando sofremos a violência e quando tentam nos fazer parecer culpadas”, escreveu outra.

Apesar do temor, Marussa diz que decidiu falar para proteger a si mesma e seus filhos. “Ainda temo. Temo por mim e temo por eles, mas terei de ter força para que entendam o que aconteceu com a mãe deles”, declarou.


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