Dom João Justino se emociona ao falar sobre contato com Papa Francisco

O arcebispo metropolitano de Goiânia, Dom João Justino, prestou uma emocionante homenagem ao Papa Francisco, falecido nesta segunda-feira (21), aos 88 anos. Durante coletiva de imprensa realizada na sede da Arquidiocese de Goiânia, o arcebispo não conteve as lágrimas ao recordar o legado do pontífice argentino, marcado pela simplicidade, acolhimento e gestos de profunda humanidade.

“Foi um homem muito lúcido, corajoso, profético para os tempos que vivemos. Deixa-nos um legado enorme nos seus ensinamentos escritos, nas suas pregações, mas principalmente nos seus gestos e decisões”, declarou Dom João, visivelmente emocionado.

Eleito em 13 de março de 2013, Francisco foi o primeiro Papa jesuíta, o primeiro da América Latina e o primeiro a adotar o nome em homenagem a São Francisco de Assis. Seu pontificado, que durou pouco mais de 12 anos, foi marcado pela defesa dos mais pobres, o diálogo inter-religioso e firme posicionamento diante de temas como a crise climática, os direitos dos refugiados e a inclusão social.

Primeiros gestos que marcaram

Durante a coletiva, Dom João relembrou um dos primeiros e mais simbólicos gestos de Francisco após a eleição: a recusa à limusine papal para seguir de ônibus com os demais cardeais. “Foi um gesto simples, mas profundamente significativo. Ele nos ensinou, com palavras e atos, a viver a simplicidade do Evangelho”, destacou o arcebispo.

Relação com o Brasil

Francisco teve uma relação especial com o Brasil. Sua primeira viagem internacional foi para o país, apenas três meses após a eleição, para participar da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, em julho de 2013. O evento reuniu mais de 2 milhões de jovens na praia de Copacabana. “Ele foi recebido com um calor humano intenso e nunca deixou de demonstrar carinho pela Igreja no Brasil”, lembrou Dom João.

Em fevereiro deste ano, o arcebispo teve um encontro pessoal com Francisco no Vaticano, quando ainda exercia a vice-presidência da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). “Mesmo com bronquite, nos recebeu por 40 minutos. Ele dizia que falaria pouco, mas fez questão de nos ouvir. Sempre muito atento, muito presente”, relatou.

Legado e impacto na Igreja

Questionado sobre o maior legado do Papa, Dom João Justino foi enfático: “acolhimento”. Para ele, Francisco abriu as portas da Igreja, tanto fisicamente quanto espiritualmente. “Seu magistério nos convida a superar barreiras, a buscar o encontro e a ternura, como ele sempre dizia. É isso que permanecerá.”

A Arquidiocese de Goiânia anunciou que promoverá celebrações litúrgicas nos próximos dias em memória do pontífice. A missa de corpo presente será celebrada no Vaticano, com o corpo sendo velado na Basílica de São Pedro e sepultado na Basílica de Santa Maria Maior, local de especial devoção do Papa Francisco.

Assembleia da CNBB deve ser adiada

A CNBB também anunciou impactos na agenda em razão do falecimento do Papa. A assembleia geral da Conferência, prevista para o dia 30 de abril, deverá ser adiada. “O Conselho Permanente se reúne nesta tarde para definir os próximos passos. Esperávamos a presença de dois cardeais estrangeiros, que agora devem permanecer em Roma para o funeral e o conclave”, informou Dom João.

Sete cardeais brasileiros com menos de 80 anos têm direito a voto no conclave que escolherá o novo Papa. Entre os nomes mencionados para acompanhar os ritos fúnebres está o cardeal Dom Raimundo Damasceno, amigo pessoal de Francisco, que deve comparecer mesmo sem direito a voto.

Apelo à oração

Encerrando a coletiva, Dom João Justino fez um apelo aos fiéis e à sociedade: “Convido a todos os irmãos católicos e às pessoas de boa vontade a se unirem em oração. Agradeçamos a Deus pelo ministério do Papa Francisco e peçamos as luzes do Espírito Santo para a escolha do novo bispo de Roma. Francisco sempre se apresentou assim: como o bispo de Roma. Que seu exemplo continue a iluminar nossa caminhada.”

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