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Goiânia, 03/05/25
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Imagem de Nossa Senhora das Dores, que fica em uma paróquia no Centro Histórico de Pirenópolis, passou por uma revitalização polêmica, que desagradou aos seguidores da santa

Descaracterização em imagem de santa gera polêmica em Pirenópolis

10/04/2025, às 09:51 · Por Redação

A cidade de Pirenópolis vive dias de tensão e debate acalorado em torno de uma de suas mais simbólicas representações religiosas: a imagem de Nossa Senhora das Dores, escultura barroca do século 18 pertencente à Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário. Apesar da polêmica, a peça sairá normalmente em procissão nesta sexta-feira, 11, e também no domingo, 13, dentro da programação oficial da Semana Santa. A denúncia de que a imagem teria sido alterada indevidamente veio à tona na última sexta-feira, 4, quando membros da comunidade relataram supostas intervenções não autorizadas. 

A principal acusação é de que a santa teria sido maquiada, descaracterizando sua expressão original. "A imagem foi maquiada e pintada por pessoas inadequadas", afirmou funcionária do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e presidente da Comissão Pirenopolina de Folclore, Séfora de Pina, em entrevista ao jornal O Popular.

No entanto, a Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento, entidade responsável pelas celebrações religiosas da cidade há 297 anos, nega qualquer irregularidade. "Não houve nada. Ninguém mexeu na imagem. Falar que ela está maquiada é maldade", rebate Isaías Dias Filho, conhecido como Dedé, presidente da Irmandade. Segundo ele, um grupo de senhoras realiza anualmente a limpeza da escultura para as procissões, e foi apenas isso que teria ocorrido. "As denúncias são feitas por pessoas que nem à igreja vão, não participam de nada", completou.

A escultura de Nossa Senhora das Dores é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que enviou uma especialista à cidade para analisar a peça. O órgão aguarda o relatório técnico da perícia para se posicionar oficialmente. "Só poderemos nos pronunciar após o relatório da perícia feita pela técnica especialista em conservação", afirmou Gilvane Felipe, superintendente do Iphan em Goiás. A Diocese de Anápolis, responsável pela paróquia da Matriz, também aguarda o parecer técnico. O bispo diocesano, dom João Wilk, encontra-se internado na UTI de um hospital em Anápolis e ainda não comentou o caso.

A denúncia gerou uma onda de especulações nas redes sociais, com áudios, vídeos e acusações cruzadas circulando entre os moradores. Em um vídeo que viralizou, uma mulher sai em defesa da própria mãe, acusada de ter lavado a imagem. “Quem falou é mentiroso e covarde”, disse. Já o sacristão da paróquia, Eduardo Tadeu — ex-presidente da Irmandade — tem evitado declarações públicas. Em áudios que se espalharam pela cidade, ele desabafa: “O povo não tem o que fazer e ficam inventando ‘trem’... Às vezes Deus vai mandar um castigo maior, cortar a língua”.

Ainda assim, há quem afirme que a imagem sofreu alterações perceptíveis. Para o estudante Matheus de Mesquita, membro da Irmandade, "qualquer criança percebe a diferença". Ele alega que a escultura, antes com lágrimas de sangue e expressão triste, agora está com os olhos repintados e sem as lágrimas visíveis.

A chefe substituta do escritório técnico do Iphan, Margareth de Souza, confirmou a complexidade da situação. “Estamos tomando todos os cuidados e outras denúncias estão aflorando”, disse. Ela também informou que a restauradora que avaliou a obra atestou sua estabilidade, permitindo que a imagem participe das procissões.

Acervo
A denúncia envolvendo Nossa Senhora das Dores levantou outros questionamentos. Há rumores de que outras imagens sacras do acervo da Matriz, como o Senhor Morto, também teriam sido modificadas, além de relatos sobre o desaparecimento de peças como Santa Terezinha, São Cristóvão e Nossa Senhora de Fátima. Isaías Dias Filho nega as intervenções e afirma que várias dessas imagens foram entregues ao Iphan. “Vamos montar uma comissão para ajudar a fiscalizar as imagens sacras”, anunciou Séfora de Pina, reforçando a necessidade de acompanhamento contínuo do patrimônio religioso da cidade.

Programação mantida
Apesar das tensões, a agenda religiosa segue inalterada. A procissão de Nossa Senhora das Dores ocorrerá nesta sexta-feira, 11, a partir das 18h30, saindo da Matriz e percorrendo o centro histórico. No domingo, 13, a imagem volta às ruas para a tradicional Procissão do Encontro, com saída às 18h e encontro com a imagem do Senhor dos Passos na Rua Direita.


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