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Funcionários denunciam mortes frequentes por falta de leitos e insumos básicos, enquanto coordenação contesta números e busca justificar situação crítica
Crise na UPA Itaipu expõe colapso da saúde pública em Goiânia
03/12/2024, às 16:43 · Por Redação
A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Residencial Itaipu, em Goiânia, tornou-se o epicentro de uma crise na saúde pública que já resultou na morte de diversos pacientes à espera de transferências para leitos de UTI. Funcionários relatam que as condições precárias da unidade têm agravado a situação de pacientes graves, enquanto denúncias sobre falta de medicamentos, insumos e manutenção de equipamentos ganham destaque.
“Falta de tudo: insumos, medicamentos essenciais, como antibióticos, dietas para pacientes com sonda. Aqui, pacientes morrem toda semana por falta de leitos em UTI. E essas não são nem todas as mortes que aparecem na imprensa”, denunciou ao jornal Opção uma técnica de enfermagem que preferiu não se identificar.
A crise, que ganhou destaque nacional após a prisão do secretário de saúde de Goiânia, Wilson Pollara, atingiu seu auge nas últimas semanas de novembro, com a morte de seis pacientes em salas vermelhas – destinadas a casos emergenciais graves – que aguardavam transferência. Três dessas vítimas estavam internadas na UPA Itaipu.
Segundo a técnica de enfermagem, as condições de trabalho são insustentáveis. “Três pacientes estão internados na sala vermelha há mais de quatro dias. Por lei, o prazo máximo é de 24 horas. Já vi casos de espera que chegam a 30 ou 40 dias. Trabalho aqui há 12 anos, mas nunca vi uma gestão tão caótica”, lamentou.
Um médico da unidade relatou o caso de um paciente de 53 anos, entubado após uma infecção generalizada. O pedido de vaga em UTI foi feito no dia 27 de novembro, mas até 2 de dezembro nenhuma transferência havia ocorrido. Ele reforçou que a falta de medicamentos adequados compromete o atendimento. “Sem os antibióticos certos, a estabilização do paciente é quase impossível. Muitas vezes, a família precisa comprar por conta própria. Só conseguimos salvar vidas com milagres”, desabafou.
A situação é agravada por problemas estruturais. A máquina de esterilização da UPA está quebrada há meses, o que obriga o envio de materiais ao Cais do Novo Horizonte para esterilização, atrasando procedimentos. “Outras UPAs estão na mesma situação, o que sobrecarrega ainda mais o serviço”, afirmou outra técnica de enfermagem.
Usuários também relataram dificuldades. Vânio Mendes, que acompanhava um amigo ferido em um acidente de trabalho, criticou a falta de insumos para sutura. “Uma UPA que não consegue fazer sutura? É inadmissível”, afirmou. Já Cibele Batista, moradora do Residencial Ipanema, levou a filha para um raio-x e ficou chocada com a precariedade da unidade. “Os bancos estão rasgados, sem espuma, tudo deteriorado. É desolador, mas os médicos se esforçam muito. Eles fazem milagres todos os dias”, disse.
Em nota, Kelly Lima, coordenadora geral da UPA, minimizou as denúncias. Segundo ela, havia apenas um paciente intubado aguardando vaga em UTI, e outros casos já haviam sido estabilizados. “No sistema, consta apenas um pedido de transferência. Além disso, foram oferecidas vagas em Nerópolis para um dos pacientes, mas a família recusou”, explicou.
Sobre a falta de medicamentos, Kelly afirmou que medidas de remanejamento estão em curso e que alguns itens já foram repostos. Apesar das justificativas, os relatos de profissionais e pacientes indicam que a situação permanece alarmante, refletindo a fragilidade da saúde pública municipal.
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