Poder Goiás
Goiânia, 29/05/24
Matérias
Divulgação

Já são 3 os ataques da extrema-direita a professores em Goiás nos últimos meses; episódios têm preocupado entidades, uma vez que todos foram provocados pelo deputado federal Gustavo Gayer, que tem usado o pretexto de doutrinação para atacar professores

Já são 3 os ataques da extrema-direita a professores em Goiás nos últimos meses

19/05/2023, às 12:04 · Por Redação

No atual cenário vivenciado pelos professores em Goiás, entidades ligadas à educação têm ficado preocupadas com os episódios de ataques à liberdade de expressão e à autonomia dos docentes em sala de aula. Prova disso é que, nos últimos meses, três incidentes envolvendo a extrema-direita e provocados pelo deputado federal Gustavo Gayer (PL) culminaram em interferências diretas no processo educacional e tem gerado um clima de apreensão e insegurança na comunidade escolar.

O primeiro episódio ocorreu em 2022 quando o parlamentar, que é ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), postou em seu canal no YouTube um vídeo criticando o então professor de sociologia do Colégio Visão, de Goiânia, Osvaldo Machado da Silva Neto, de 41 anos, por ter utilizado em prova uma tirinha do cartunista André Dahmer, do jornal Folha de São Paulo. O docente foi sumariamente demitido e a decisão provocou a reação dos estudantes, que promoveram uma manifestação nos corredores da escola privada, contra o desligamento do funcionário. 

A escola justificou à época que o motivo da demissão foi em virtude da publicidade do fato, que ganhou repercussão ao ser veiculada pelo então blogueiro Gustavo Gayer, em suas redes sociais, que classificou, talvez por falta de conhecimento, que a obra em questão, conhecida por seu caráter crítico e reflexivo, como inapropriada por alguns setores conservadores, que interpretaram o conteúdo de forma distorcida. Na ocasião, o professor chegou a explicar que Gayer havia interpretado errado a avaliação e que o colégio tinha conhecimento do material antes de ter sido aplicado a seis alunos em uma recuperação.

Em meados de abril de 2023, a Universidade de Rio Verde (UniRV) tomou uma decisão controversa ao retirar o livro "Eu receberia as notícias piores dos seus lindos lábios", do escritor Marçal Aquino, da lista de obras para seu vestibular. A justificativa apresentada foi por considerar a obra ‘pornográfica’. “Por que pé de maconha, xoxota e pau estão fazendo parte de um livro, um conteúdo literário, para que seja feita uma prova para ingressar na faculdade?”, questionou Gustavo Gayer em uma de suas publicações contra a obra.

A universidade confirmou que a exclusão foi devida à polêmica gerada acerca da obra e esclareceu, ainda, que a indicação das obras literárias aos vestibulares fica sob a responsabilidade de uma banca de professores atuantes em escolas públicas e particulares de todo o país. O romance foi publicado em 2005 pela editora Companhia das Letras que se manifestou contra a decisão, que considerou como ‘censura’. “O livro explora temas como amor, traição, violência e redenção”, posicionou a editora, ao repudiar a censura. 

O terceiro e mais recente incidente ocorreu em maio de 2023, quando uma professora de Artes do Colégio Expressão, em Aparecida de Goiânia, foi demitida por usar uma camiseta estampada com obra do renomado artista Hélio Oiticica. A demissão se deu também após o deputado bolsonarista Gustavo Gayer classificar como petista uma blusa vermelha que a professora usou em sala de aula. A peça trazia na estampa os dizeres "Seja Marginal, Seja Herói". Esse episódio reforça a preocupação com a crescente intolerância à diversidade artística e cultural, minando o espaço para a expressão livre e a valorização das manifestações artísticas dentro das instituições de ensino.

A docente diz que ainda estar sofrendo ataques nas redes sociais desde que o deputado fez a publicação, motivo pelo qual não se identifica. A goiana contou que fez um acordo com a escola, mas não teve como se livrar da demissão. Segundo ela, o sócio justificou que a escola poderia ter prejuízos financeiros caso não a mandasse embora. Após a demissão, ela decidiu mover uma ação por danos morais contra o parlamentar, na qual pede indenização de R$ 30 mil.

Entidades
Ao menos quatro entidades ligadas à educação ingressaram com uma ação na Justiça contra o deputado estadual Gustavo Gayer (PL) pedindo a suspensão de suas redes sociais e a proibição de qualquer postagem que mencione “doutrinação de esquerda” – mote que, segundo a ação, o parlamentar usa para “perseguir, constranger, humilhar e difamar” professores.

A ação é assinada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee), Sindicato dos Professores do Estado de Goiás (Sindipro), Federação Interestadual dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino do Brasil Central (Fitrae-BC) e Sindicato dos Trabalhadores em Educação no Estado de Goiás (Sintego). Nela, as entidades argumentam que, em suas redes sociais, o único “mote de campanha e de trabalho” de Gustavo Gayer é “a de perseguir opositores políticos e agora, professores, que a seu ver, realizam em sala a chamada ‘doutrinação de esquerda’”.


Política Extrema-Direita Ataques Professores Gustavo Gayer Goiás
P U B L I C I D A D E