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Goiânia, 29/05/24
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Foto: Divulgação/Chorinho

Já tradicional e sucesso de público e de crítica, o Chorinho é promovido no mesmo local e com a mesma periodicidade pela Secretaria de Cultura de Goiânia há 12 anos.

Polícia Militar age com truculência e assusta público do Chorinho

01/09/2019, às 00:25 · Por Eduardo Horacio

Tradicional evento musical promovido pela Prefeitura de Goiânia no centro da Capital, Grande Hotel Vive o Choro teve uma noite conturbada na última sexta-feira, 30. A Polícia Militar (PM) proibiu a venda de bebidas alcoólicas por ambulantes no local e tentou inibir as apresentações, deixando frequentadores assustados. A coordenação do Chorinho, como é conhecido o evento, emitiu nota repudiando a ação da Polícia.

Com grupos de choro e atrações musicais de MPB e samba valorizando artistas locais, o Chorinho é realizado as sextas-feiras, atualmente em um intervalo de 15 dias, em frente ao Grande Hotel, entre a Avenida Goiás e a rua 3, no centro de Goiânia. Com pouca descontinuidade, o evento é promovido pela Secretaria de Cultura do município há 12 anos.

O caráter democrático, de rua e gratuito, sempre foi o diferencial do Chorinho na cena cultural goianiense. E justamente essa participação popular (que atrai a cada edição trabalhadores da região central, estudantes, ambulantes, artistas e moradores de rua) no centro de Goiânia, que tem causado incômodo à Polícia Militar. Aos promotores, policiais afirmaram que se tratava de “loucura” a realização em local aberto.

Ao contrário de outros dias, em que cumpriu a missão de garantir segurança aos frequentadores, na última sexta-feira a PM chegou ao local com uma estratégia diferente, querendo “organizar” a atividade cultural. Após proibir a venda de bebida alcóolica e estacionar uma viatura em frente ao palco, o comando do policiamento no local começou a dar sugestões e até sugerir o fim das apresentações no local. “Por que vocês não mudam isso para um lugar fechado?”, questionou o PM.

Desabafo
Coordenador do Chorinho, o jornalista Carlos Brandão fez um longo desabafo nas redes sociais questionando a ação da PM no local e endereçando críticas diretas ao governador Ronaldo Caiado. “O senhor deveria, antes de sair pela cidade metendo o bedelho em atividades culturais, cuidar da sua própria Secretaria de Cultura, que até hoje não disse a que veio. A sua Polícia não deve sair pela cidade se arvorando de curadora de atividades culturais e definindo o que pode e o que não pode”, atacou, em nota.

A ação da PM causou impacto imediato entre os frequentadores do Chorinho. Um dos coordenadores da Parada do Orgulho LGBTI de Goiânia, o jornalista Leorcino Mendes, presente ao evento, demonstrou preocupação com a forma com que a polícia agiu no local, também muito frequentado pela comunidade LGBT.

Leorcino Mendes demostra preocupação com o trabalho da Polícia no dia 8 de setembro, quando mais de 100 mil pessoas são esperadas no centro da Capital para a 24ª Parada do Orgulho LGTB de Goiânia. “Eu acho que na Parada não vai ser diferente”, preocupou-se o ativista. 

Confira abaixo a íntegra do relato do coordenador do Chorinho, Carlos Brandão, no Facebook:

Desde que o Chorinho foi criado, em 2007/8, pela secretaria de Cultura de Goiânia, que um dos focos das pessoas que fizeram/fazem sua produção, é a segurança. Para isso, sempre foi solicitado apoio da Polícia Militar e da Guarda Municipal. Para ser honesto, pelo menos nas vezes que fiz a produção, raramente fui bem atendido por essas corporações.

Ontem, fui surpreendido com a escalação de uma equipe enorme de policiais militares, para “organizar” o Chorinho. O comandante da equipe chegou e já proibiu os ambulantes de venderem bebidas alcóolicas. Ok, começamos mesmo assim, porque nosso foco é a música. Mas o rapaz do comando, começou a dar palpites na organização do Chorinho. Isso pode. Aquilo não pode. Vcs devem mudar esse evento de lugar, etc, etc, etc.
Não quero me dirigir a esse rapaz, que estava lá, com certeza, cumprindo ordens do seu comando. Quero me dirigir ao chefe maior desse rapaz. 

Governador Ronaldo Caiado, eu acho que o senhor deveria, antes de sair pela cidade metendo o bedelho em atividades culturais, cuidar da sua própria secretaria de cultura, que até hoje não disse a que veio. A sua polícia, senhor Ronaldo Caiado, não deve sair pela cidade se arvorando de curadora de atividades culturais e definindo o que pode e o que não pode acontecer.

Se o governador de Goiás avaliza essas atitudes, a gente pode dizer que estamos realmente fodidos e mal pagos. Repito, senhor Ronaldo Caiado: dê condições para que sua secretaria de Cultura funcione. Cuide do seu quintal. Não há necessidade de colocar sua PM para definir o que pode e o que não pode acontecer, culturalmente, na Grande Goiânia.

O Chorinho sempre pediu apoio da segurança pública estadual e municipal. É público e notório que os órgãos de segurança do Estado nunca viram com bons olhos essa atividade cultural. Tudo que é feito na rua, dá trabalho, senhor Caiado. Se o senhor não entende de Cultura, eu tenho 50 anos de trabalho nessa área e posso lhe explicar algumas coisas. 

E o senhor precisa explicar isso aos seus policiais. A ordem é fechar o Chorinho, disse o rapaz de ontem. “Por que vocês não mudam isso para um lugar fechado?”, perguntou. “Isso que vocês estão fazendo aqui é uma loucura, é impossível fazer isso no meio da rua”, explicou, como se ele entendesse alguma coisa de atividades culturais.

Governador Ronaldo Caiado, se liga: sua polícia fechou boa parte das Batalhas de rap que existiam pela cidade. Se o senhor ainda não foi apresentado para o hip hop, essa arte é um dos portos seguros dos jovens da periferia. O rap salva pessoas, senhor Ronaldo Caiado. Peça um estudo do tema, para sua secretaria de Cultura e tenho certeza que ela vai lhe mostrar essa realidade.

Repito e encerro: a cidade e os produtores de Cultura não precisam do “auxílio luxuoso” da sua PM, para realizarem suas atividades culturais, senhor Ronaldo Caiado. E como produtor do Chorinho, agradeço toda e qualquer ajuda no sentido de dar segurança para o público que vai assistir aos shows. Mas dispenso o apoio da PM, na produção e curadoria do mesmo. Como dizem: cada qual no seu quadrado. Ado. Ado. Ado!

Carlos Brandão


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