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Goiânia, 29/05/24
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Artista convidada para festival de arte de rua teve a obra vandalizada na região da vagina: "Significativo e muito violento

Obra de arte feminista é destruída 12h depois de pronta em Goiânia

24/07/2022, às 18:13 · Por Redação

Convidada para participar de um festival internacional de arte de rua em Goiás, a paranaense Bruna Alcântara, de 33 anos, uma das poucas mulheres participantes, teve a sua  obra vandalizara no Centro da capital goiana em menos de 12 horas depois de pronta.

A situação chamou a atenção e gerou revolta nas redes sociais, por se tratar de uma obra com conotação feminista. “A sociedade não está preparada para lidar com a liberdade dos nossos corpos”, expressou a artista em um manifesto na internet, após o ocorrido.

Focada em criar trabalhos que abordam a condição feminina e a maternidade, aliando fotografia e bordado, Bruna escolheu uma tradicional esquina do Centro da cidade para colar a imagem de um autorretrato dela amamentando o filho, um registro feito há mais de sete anos em Portugal.

A foto em preto e branco contrastava com o bordado colorido na região da vagina. Ela foi colada no horário do almoço, na última terça-feira, 19. “De noite, perto das 20h, abrimos uma exposição na Vila Cultural Cora Coralina e uma menina chegou contando que estavam tirando, mas eu não sei quem foi”, relatou a artista ao Metrópoles.

O único local rasgado e retirado da imagem, por mais que se tratasse de uma reprodução em forma de bordado, foi a vagina. “Uma vagina incomoda muita gente”, escreveu Bruna no texto publicado em suas redes sociais. Já de volta a Curitiba (PR), ela enfatiza que “terem tirado apenas a representação da vagina é muito significativo. É violento!”.

A obra, segundo Bruna, fala sobre “a dor e a delícia de ser mãe e sobre a condição de mulher santificada” que a sociedade coloca a mulher, quando ela se torna mãe. A mesma imagem já foi exposta em Portugal, São Paulo e Curitiba. “Nunca havia tido uma repercussão negativa como em Goiânia”, afirma.

O simbolismo desse episódio tem servido de gatilho para reflexões sobre a sociedade machista e patriarcal. A artista expôs que, ao chegar em Goiânia, se encantou com a frequência de arte pelas ruas da cidade, mas logo percebeu as “panelas artísticas” e o “ambiente extremamente machista”.

“O primeiro susto foi o festival que fez o Beco da Codorna – 180 artistas homens e apenas quatro mulheres. Vocês, homens produtores e artistas, se envergonham disso?”, questionou.

Bruna recebeu o apoio de mulheres, ativistas, pessoas públicas e artistas da cidade, mas não deixou de citar os números de violência contra a mulher em Goiás. Segundo ela, os dados comprovam o “cala boca goiano”.

O feminicídio é o crime violento que mais cresceu, proporcionalmente, em Goiás, entre 2018 e 2021 – um aumento de 50%, conforme os dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás (SSP-GO).

Em 2018, 36 mulheres foram assassinadas no estado em situações que se enquadram como feminicídio. Em 2019, foram 40 casos, depois 44 em 2020 e, no ano passado, atingiu o pico de 54 vítimas.

Todo esse contexto reflete nas esferas de representação. Na Câmara Municipal de Goiânia, por exemplo, de todos os vereadores, apenas cinco são mulheres. A artista lamentou o episódio vivenciado na cidade, mas garante que seguirá com sua arte. “É minha alma, minha causa. A libertação dos corpos femininos e a igualdade de gênero ainda têm muito trabalho pela frente. Não será meia dúzia de reacionários que vão nos calar”, diz ela.


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