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Foto: DivulgaçãoDe Iris Rezende para Daniel Vilela: "Na minha idade, creio ter reunido a suficiente experiência para sugerir um posicionamento fraterno e solidário por parte do conjunto partidário"
Em carta aberta, Iris faz apelo a Daniel Vilela por “perdão” a prefeitos expulsos do MDB
11/07/2019, às 01:05 · Por Eduardo Horacio
Maior liderança do MDB em Goiás, o prefeito de Goiânia, Iris
Rezende, posicionou-se contrário à iniciativa do presidente do diretório
estadual do partido, o ex-deputado Daniel Vilela, de comandar a expulsão de
prefeitos e lideranças do partido que apoiaram a candidatura de Ronaldo Caiado
(DEM) em detrimento da candidatura própria na disputa pelo governo do Estado em
2018.
Os prefeitos Adib Elias (Catalão), Paulo do Vale (Rio Verde)
e Fausto Mariano (Turvânia) foram expulsos em processo sumário comandado por
Daniel Vilela, candidato derrotado ao governo. Renato de Castro (Goianésia)
seguiu o mesmo caminho e teve destino diferente, não sendo expulso. O
ex-prefeito de Formosa e atual secretário de governo do Estado, Ernesto Roller,
se antecipou ao processo pedindo a desfiliação na véspera.
Na carta endereçada a Daniel Vilela, nesta quarta-feira, 10,
Iris Rezende pede “unidade” ao MDB e manutenção dos prefeitos que enfrentam
processo interno de expulsão. “Faço, portanto, uma conclamação para que todos
os envolvidos nos acontecimentos políticos que geraram a luta interna no MDB
tenham abertura para um amplo entendimento que começa pelo gesto simples do
perdão”, cobra o prefeito.
Iris lembra na carta que manteve a coerência e apoiou a
candidatura de Daniel Vilela, mas que reconhece as divergências internas que
levaram outros nomes do partido a apoiar a eleição de Ronaldo Caiado. O
prefeito de Goiânia destacou ainda o trabalho desempenhado pelos colegas
prefeitos e a relevância histórica deles no MDB.
Leia a íntegra da carta abaixo:
Carta aberta ao presidente do Diretório Regional do MDB,
Daniel Vilela
Senhor Presidente,
Embora distante do debate político que se estabeleceu no MDB
desde as eleições para o governo no ano passado, e, neste momento, apenas
dedicado ao enfrentamento dos desafios de gestão na Prefeitura de Goiânia, me
achei, contudo, no direito de fazer uma ponderação a respeito dos rumos de
nosso querido partido em face de suas próximas decisões.
Como muito bem sabem os emedebistas e a população de Goiás,
sou um homem forjado na persistência pelo diálogo enquanto a melhor via de
resolução de conflitos e posicionamentos divergentes. Diante de impasses,
jamais se pode abrir mão da abertura que possa resultar em conciliação, desde
que estejam em jogo os interesses maiores da sociedade e das instituições.
O MDB se constituiu, ao longo de décadas, como a referência
maior desta premissa calcada no equilíbrio, permitindo que o Brasil pudesse
alcançar condições de governabilidade em tempos de sucessivas crises.
O partido jamais cedeu às tentações para a confrontação. Firmou-se
numa conduta cívica alicerçada em ações responsáveis, sempre a colocar os
interesses nacionais acima de tudo, em permanente compromisso com a população.
O ódio jamais constrói. Pelo contrário, colabora de maneira
explosiva para a desintegração social ao contaminar as relações institucionais
e ao aprofundar situações que geram impasses e incertezas.
Como é da tradição do MDB, temos que persistir e primar pela
conduta consequente, que fortaleça uma mensagem de desprendimento e desapego no
que diz respeito à luta pelo poder, sempre tendo como norte as causas maiores
da sociedade.
A propósito das posições assumidas durante a disputa para o
Governo do Estado em 2018, infelizmente o que se verificou foi a grave divisão
interna no MDB, tendo como ponto de discórdia o lançamento de uma candidatura
própria ou o apoio a outra candidatura.
Sempre com posições claras a este respeito, na ocasião
defendi que o partido se mantivesse fiel à sua trajetória de sempre participar
das disputas majoritárias como cabeça de chapa. Afinal, somos uma legenda
forte, arraigada no cotidiano da população, protagonista em todos os momentos
de definições a respeito dos destinos de Goiás e do Brasil.
O meu apoio à candidatura de Vossa Excelência ao governo,
portanto, revestiu-se de extrema coerência para com as posições que assumimos
desde as origens, a partir da visão de que o MDB tem uma missão maior no âmbito
político, no sentido de conduzir o debate responsável, construtivo e
patriótico.
A decisão firmada por prefeitos e lideranças do MDB durante
as eleições, no sentido de apoiar a candidatura de Ronaldo Caiado ao governo
pelo DEM, constituindo-se uma dissidência, naturalmente trouxe grande incômodo
nas hostes da legenda, uma conflagração que se arrasta até os dias atuais
diante das expectativas de julgamento deste caso, por parte da Comissão de
Ética do partido.
Uma decisão a respeito, contudo, reveste-se de grande
complexidade política, em especial porque os ânimos ainda permanecem acirrados
com a predominância, até aqui, de posições favoráveis à expulsão de importantes
quadros do MDB, grandes militantes e dirigentes que conosco marcharam em
memoráveis jornadas contra a ditadura militar e pela conquista das liberdades
democráticas.
Os nomes que são passíveis de julgamento também desempenham
papel de relevo como gestores muito bem avaliados em seus municípios, além de
serem líderes que contribuíram de maneira efetiva para o crescimento do MDB em
Goiás e no Brasil.
Situações politicamente delicadas podem ser uma excelente
oportunidade para demonstração de amadurecimento. A partir de suas próprias
dificuldades internas, o MDB precisa gerar uma mensagem importante para a
sociedade, tendo por base a reconciliação.
Em Mateus 18:20-22, Pedro se dirigiu ao Senhor, com a grande
questão: “Até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei?
Até sete? Jesus lhe disse: Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes
sete”. Em Efésios 4:32, outra mensagem muito afirmativa: “Sejam bondosos e
compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus
perdoou vocês em Cristo”.
Faço, portanto, uma conclamação para que todos os envolvidos
nos acontecimentos políticos que geraram a luta interna no MDB tenham abertura
para um amplo entendimento que começa pelo gesto simples do perdão.
Tenho absoluta certeza de que, a despeito das emoções
provocadas pela dureza do debate, possam as partes iniciar um profícuo e
duradouro diálogo, de modo a alcançar a sonhada unidade. Este é o grande
caminho para que o MDB se mantenha forte, aguerrido e combativo, jamais
permitindo que circunstâncias da conjuntura possam afetar a sua caminhada
histórica.
Na minha idade, do alto dos meus 85 anos, creio ter reunido
a suficiente experiência para sugerir um posicionamento fraterno e solidário
por parte do conjunto partidário, por amor ao MDB e sua bela trajetória, por
amor a Goiás e ao Brasil.
Iris Rezende Machado
Iris Rezende Daniel Vilela Ernesto Roller Adib Elias Fausto Mariano Paulo do Vale