Matérias
Foto: Carlos Costa/DivulgaçãoCaiado foi eleito em bases diferentes de Bolsonaro, sem precisar lançar artimanhas ideológicas fictícias, mas mesmo assim resolveu se apequenar no debate da educação
Goiás já tem sua Ilona Szabó: Caiado corta prima Mayra Caiado Paranhos por conta da “ideologia de gênero”
26/04/2019, às 00:04 · Por Eduardo Horacio
O governador Ronaldo Caiado (DEM) já tem uma Ilona Szabó
para bode expiatório. No caso de Caiado, pior ainda: ele cortou na própria
carne e queimou sua prima, a advogada Mayra Caiado Paranhos, excluindo-a do
Conselho Estadual de Educação por uma falsa questão ideológica, para agradar a
bancada evangélica que apoia seu governo. Se a exclusão tivesse se dado pelo
grau de parentesco com o governador, ok. Mas, não, o “crime” de Mayra é ser a
favor do debate incluindo questões de gênero na comunidade escolar (algo que
alguns setores evangélicos tratam como “ideologia de gênero”, uma ficção do febeapá).
Cientista política e também mulher (como Mayra), Ilona Szabó
passou pelo mesmo constrangimento em fevereiro, no plano federal, no Ministério
da Justiça. Altamente qualificada, tem mestrado em estudos de conflito e paz
pela Universidade de Uppsala e é especialista em redução da violência e
política de drogas. Depois de nomeada por Sergio Moro, foi excluída do Conselho
Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) por ter algumas posições
divergentes do olavismo que impera no governo Bolsonaro.
Quando foi excluída do CNPCP, Ilona disse que “ganha a
polarização e a pluralidade é derrotada” e que lamentava “não poder assumir o
mandato devido à ação extremada de grupos minoritários. O país precisa superar
a intolerância para atingir nossos objetivos comuns na construção de um país
mais justo e seguro”. Mayra disse à jornalista Fabiana Pulcineli, de O Popular, que não foi comunicada da retirada de seu nome e que prefere se abster decomentários. "A discussão deveria ser a Educação", afirmou.
Mayra está corretíssima. No caso dela, em Goiás, o caso é até
mais grave porque o motivo alegado (“ideologia de gênero”) simplesmente não
existe nem nas escolas nem fora delas, como é colocado desde que esse debate
foi fantasiado em 2011. Em geral, só quem nunca entrou em escolas públicas ou
age de má fé pensa assim. O que existe são os estudos de gênero, que buscam
discutir os motivos da desigualdade política, social e econômica entre mulheres
e homens. Na visão de especialistas da área, associar qualquer estudo a
ideologia é uma estratégia para rebaixar a credibilidade dessas pesquisas – e,
assim, perpetuar a desigualdade.
Que o Brasil retrocede em várias áreas, com Bolsonaro, é fácil
de entender porque foi exatamente isso o que ele prometeu na campanha
eleitoral. E dali não dá para esperar mais. Já Caiado, não. Caiado foi eleito
em outras bases, sem precisar lançar artimanhas ideológicas fictícias para
ganhar a eleição. Caiado tem muito mais estudo e preparo político que Bolsonaro.
A ideologia de Caiado não é rasa como a do presidente da República. Por isso, é
triste que o governador goiano se mostre fraco e sucumba a essas bobagens, se apequenando no cenário nacional e local.
Mayra Caiado Paranhos Ilona Szabó Ideologia de Gênero Ronaldo Caiado Jair Bolsonaro Sergio Moro