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Caiado e Bolsonaro: na prática, discurso de aversão à velha política cai por terra

Discurso moralizador pra quê? ‘Toma lá, dá cá’ vale no Planalto e nas Esmeraldas

25/04/2019, às 00:05 · Por Diene Batista

A onda de moralismo que assolou o Brasil disseminada pela guinada da direita aos mais altos postos da política também contaminou Goiás. O “toma lá, dá cá” da política – ou melhor, as articulações – foram demonizadas dando lugar a um discurso moralizador, com a adoção de critérios supostamente técnicos para a escolha de lideranças para cargos, além de barreiras no diálogo com aliados.

Com o governador Ronaldo Caiado (DEM) à frente do Executivo, deputados estaduais e federais, além de prefeitos - muitos deles companheiros de primeira hora nas eleições do ano passado - amargaram (e ainda amargam) dificuldades para emplacar cargos, principalmente no interior do Estado. Na última terça-feira, 21 deputados estaduais governistas se reuniram com o secretário de Governo, Ernesto Roller (sem partido), para tentar resolver o impasse.

Em demorada reunião, eles definiram uma divisão de cargos seguindo os seguintes critérios: abocanham as vagas o deputado federal e o estadual mais votados de cada cidade, além do grupo local que apoiou a candidatura caiadista. Houve chiadeira pelo lado dos parlamentares que não se enquadram nestes parâmetros. Com isso, uma nova divisão foi proposta, desta vez com uma espécie de "cota" de indicações para  cada parlamentar. Assim, aqueles que não obtiveram quantidade expressiva de votos também participariam da divisão. A situação segue indefinida - e insatisfatória - e depende da decisão final de Caiado. 

Como pano de fundo para essa disputa de espaços estão as eleições de 2020 para o Executivo e o Legislativo municipal, de um lado. De outro, a preocupação do governo estadual em conseguir apoio para seu projetos na Assembleia Legislativa.

No âmbito federal, parlamentares ligados ao presidente Jair Bolsonaro (PSL), enfrentam dificuldades para articular fortemente a favor dos projetos encampados. O major Victor Hugo (PSL-GO), líder do Governo na Câmara Federal, chegou a admitir que não há base governista naquela Casa. 

A vitória na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que aprovou o projeto de Reforma da Previdência, no entanto, parece ter renovado os ânimos para o diálogo. É que, agora, o governo estuda oferecer aos parlamentares para uma espécie de crédito para que eles possam realizar obras e projetos em suas regiões, como apurou o blog BR18, do Estadão. 

Já a Folha de S. Paulo apurou que o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS) ofereceu destinar o valor extra de R$ 40 milhões em emendas parlamentares até 2020 para cada deputado federal que votasse a favor da proposta.

Quando assumiu, Bolsonaro apostou no discurso de escolher quadro técnicos para compor seu governo. Bateu cabeça em várias áreas, apostando em nomes poucos qualificados, inclusive.  Em janeiro, com apenas uma semana no cargo, o então presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex), Alecxandro Pinho Carreiro, pediu demissão do cargo. Seu currículo não estava alinhado ao estatuto da entidade, que exigia fluência em inglês e experiência no setor público, predicados inexistentes na trajetória de Carreiro.

A verdade é que o famigerado – e demonizado - “toma lá, dá cá” segue valendo aqui, Palácio das Esmeraldas, e em Brasília, no Palácio do Planalto. A chamada “velha política” não foi e dificilmente será extirpada. Publicizar a adoção de critérios técnicos para o preenchimento de cargos nada mais é do que dourar a pílula e vender ao cidadão algo que o pragmatismo político não permite existir. É, ainda, apostar no conservadorismo que assola o país em inúmeros setores como forma de conquistar capital político junto ao eleitorado. Os movimentos do presente mostram que esta engrenagem ainda deve resistir por muito tempo.


Ronaldo Caiado Jair Bolsonaro
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