Poder Goiás

Goiânia, 23/04/24
Matérias
Foto: Divulgação

Por meio de nota, governo Caiado condena ações do governo federal na Chapada dos Veadeiros

Governo Caiado diz que não foi consultado sobre produto químico jogado em Goiás e nega regulamentação e autorização

13/10/2020, às 00:03 · Por Eduardo Horacio

Questionado se um produto químico que governo federal lançou em Goiás para conter fogo exige paralisação de consumo de água, alimentos e pesca por 40 dias, o governo de Ronaldo Caiado (DEM), por meio de Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), informou que “não há nenhuma regulamentação sobre o referido produto químico em Goiás; que não foi consultado sobre sua utilização; e que não é autorizado o uso do mesmo dentro da Área de Proteção Ambiental do Pouso Alto, de gestão sob responsabilidade do governo goiano”.

Ainda assim, mesmo sem autorização dos goianos, um produto químico que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, mandou lançar sobre Chapada dos Veadeiros para conter fogo exige paralisação de consumo de água, pesca e alimentos por 40 dias. Por quê? Riscos de contaminação. O alerta é do próprio Ibama. Os riscos de contaminação deste produto utilizado em Goiás são tão controversos que o próprio Ibama faz alertas graves sobre sua utilização.

O jornal O Estado de S.Paulo teve acesso a uma nota técnica feita pela Coordenação de Avaliação Ambiental de Substâncias e Produtos Perigosos do Ibama, em julho de 2018. Neste documento, os técnicos do Ibama analisaram o produto que foi lançado na região, ainda sem ter a devida regulação ambiental no Brasil. Esse produto químico, que é misturado à água e lançado por aviões sobre a vegetação, tem a propriedade de aumentar a capacidade de retenção do fogo. Os técnicos são taxativos ao recomendar “a suspensão do consumo de água, pesca, caça e consumo de frutas e vegetais na região exposta ao produto pelo prazo de 40 dias”.

Esse prazo é estipulado, de acordo com a nota, porque o produto lançado na floresta demora pelo menos 28 dias para que cerca de 80% a 90% de seu material se degrade. O composto utilizado, conhecido como retardante de fogo, foi o Fire Limit FL-02.  Nesta semana, Salles foi alvo de críticas e protestos por moradores da região. O ministro postou imagens em suas redes sociais com o produto lançado na região e sobrevoou a Chapada, declarando neste domingo que o fogo tinha acabado na região.

A área técnica do Ibama recomendou que a aplicação desse produto fosse feita fora das Áreas de Preservação Permanente (APP), como margens de rios. A Chapada dos Veadeiros é uma região tomada por florestas protegidas, como o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. O receio de contaminação pelo produto químico levou o órgão do próprio Ministério do Meio Ambiente a recomendar que todos os locais onde o retardante de chama fosse aplicado tivessem de ser georreferenciados, registrando a data da aplicação, quantidade de produto utilizada e tamanho da área aplicada, pelo prazo de seis meses, pelo menos, de forma a identificar algum dano ambiental decorrente da aplicação do retardante de chama.

Além disso, os técnicos afirmam que é preciso fazer análise química para investigar os teores do retardante na água, solo, sedimento, peixes e frutas, com coletas realizadas após 30 dias da aplicação do produto. A análise indica que são medidas básicas para adoção da alternativa, “considerando a inexistência de objeção legal que impeça a utilização do produto, recomendamos o uso restrito do retardante de chama à base de nitrogênio”.  

Na nota técnica, o Ibama aponta também que o tipo de produto utilizado não faz parte dos grupos de retardantes de maior preocupação ambiental e toxicológica, mas alerta que os reflexos dessa utilização ainda deveriam ser mais bem estudados, daí a necessidade de tantas precauções.

Nos primeiros 11 dias de outubro, o número de focos de incêndio no Cerrado, onde se encontra a Chapada dos Veadeiros, já supera toda a queimada observada no bioma em outubro inteiro de 2019. Já foram registrados pelo Programa Queimadas, do Inpe, 9.884 focos entre o dia 1 e 11 deste mês, ante 8.356 focos observados nos 31 dias de outubro do ano passado. O bioma começa a engrossar a temporada de queimadas que assolam a Amazônia e o Pantanal.

Leia mais sobre o assunto clicando aqui

Nota do Governo de Goiás:

O Governo de Goiás, por meio de Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), informa que não há nenhuma regulamentação sobre o referido produto químico em Goiás; que não foi consultado sobre sua utilização; e que não é autorizado o uso do mesmo dentro da Área de Proteção Ambiental do Pouso Alto, de gestão sob responsabilidade do governo goiano.


Andrea Vulcanis Ronaldo Caiado Ricardo Salles Jair Bolsonaro Meio Ambiente Chapada dos Veadeiros Ibama
P U B L I C I D A D E